sábado, 30 de março de 2013

Toda Poesia - Paulo Leminski



"Cedo, lendo a gente descobre, lá fora existe,não apenas um mundo mas também uma literatura”

Toda Poesia – Paulo Leminski
“A liberdade da minha linguagem...” Leminski sobre Poesia.

Tenho um palpite. Se algum dia eu chegar a falência, será por causa do dinheiro que eu já gastei com livros. E mais: com a editora Companhia das Letras, como diria a Amanda: Companhia te leva a falência. Adivinhem? Eles lançaram uma edição, LINDA, com toda a poesia, já publicada pelo escritor curitibano Paulo Leminski, dos livros que o autor publicou, e até alguns poemas inéditos, onde notamos toda a genialidade do poeta.

“Haja tanto hoje, pra tanto ontem”

Toda Poesia, é uma coletânea, como o título sugere, e como eu acabei de dizer, reúne toda a poesia publicada por Paulo Leminski, os volumes maravilhosos como Distraímos Venceremos (inclusive já resenhado pelo amigo Junior), Não fosse isso e era menos, não fosse tanto e era quase (resenhado por este que vos fala), o raríssimo Quarenta Clics em Curitiba, o delicioso Caprichos e Relaxos, e obras póstumas como Winterverno. A coletânea traz toda a obra poética de Paulo Leminski, e os fãs vão ao delírio. Mesmo você que não é fã, não se preocupe, o livro é simplesmente fantástico e você vai acabar gostando.
Leminski, é um dos grandes nomes da poesia contemporânea, e uma fusão esplêndida de opostos, algo que se nota ao longo de todo o livro. O poeta consegue unir mundos, debater histórias, e trazer universos opostos que deixam o leitor pensativo, a cada poema, a cada livro terminado.

“Teses, antíteses, vê bem onde pises, pode ser meu coração”

Leminski apresenta poemas curtos, mas não menos maravilhosos, apresenta poesias concretas, e faz diversos percursos sobre si mesmo, sobre o amor por Curitiba, sobre o fazer poético, sobre diversos olhares sobre a poesia (inclusive o seu), sobre o mundo, sobre como o poeta encarava o mundo, os anos 80, o amor, a vida, as coisas simples e as coisas complexas, além de deliciosas brincadeiras com a gramática, o uso do coloquial da linguagem e a formalização da mesma.
Leminski, é pura e simplesmente uma união de contrários, uma fusão de opostos, e me faltam mais adjetivos para qualifica-lo como um excelente exemplo de escritor, um dos maiores nomes da literatura brasileira contemporânea. E que pena que ele tenha nos deixado em 1989...

“Confira
tudo que respira
conspira”

Já deu pra perceber, que sim, sou fã do escritor. Já deu pra perceber é claro, que também adoro Literatura brasileira (basta ver as minhas demais resenhas), e que Leminski é um grande exemplo de como a literatura brasileira pode ser maravilhosamente fantástica.
A edição da Companhia te leva a falência é simplesmente fantástica. Linda mesmo, um livro daqueles que vale a pena ter na estante, para abrir mil e uma vezes. E acredite, toda a vez que você abre, dá pra encontrar uma coisa que não se viu na última leitura, dá pra encontrar algo que não se viu da última vez, algo que não conseguiu ser notado da última vez que você leu.
Isto a meu ver, é que torna a poesia de Paulo Leminski ainda mais fantástica, você sempre se surpreende com aquilo que lê, você sempre lê mais de uma vez, e repara em mais do que viu da última vez. E este é o ingrediente principal de boa literatura em geral: o encontrar novidades naquilo que você já leu. É mais ou menos como ler Homero, lido e discutido até hoje, mesmo sendo o inicio da literatura ocidental (muito antes de Leminski sonhar em existir), ainda hoje se estuda, porque? Porque, talvez sua leitura nunca esteja completa, talvez, sempre se encontre coisas que não foram notadas na leitura anterior...
O mesmo acontece com Paulo Leminski, o mesmo acontece com essa coletânea que eu estou resenhando hoje, e acredite, com diversos autores que nós já indicamos aqui na Posso te indicar um livro?. Literatura boa é aquela que nunca se completa, leitura boa é aquela que nunca está acabada. Digo, você chega até o ponto final, aí lê de novo, e o sabor do ponto final é completamente diferente da última leitura. Duvida de mim? Leia qualquer um dos livros já indicados aqui. Ainda duvida? Desafio! Leia o Toda Poesia, e entenda porque você vai acabar concordando comigo.

Como é de praxe, trago um trecho do livro resenhado. Vou quebrar as regras, e vou trazer dois: (mentira, eu trouxe vários ao longo da resenha).

“O assassino era o escriba
Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito inexistente.Um pleonasmo, o principal predicado de sua vida,regular como um paradigma da 1ª conjunção.Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial,ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeitoassindético de nos torturar com um aposto.Casou com uma regência.Foi infeliz.Era possessivo como um pronome.E ela era bitransitiva.Tentou ir para os EUA.Não deu.Acharam um artigo indefinido na sua bagagem.A interjeição do bigode declinava partículas expletivas,conectivos e agentes da passiva o tempo todo.Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.”

E agora o segundo trecho, para aí sim, vocês se interessarem ainda mais pelo livro e por toda a obra de Leminski:
“Tudo que eu façoalguém em mim que eu desprezosempre acha o máximoMal rabisco,não dá mais pra mudar nada.Já é um clássico.”

Indicação do Aion
[chega de chegar, depressa é muito devagar]*
*pra quem não sabia, sim, a minha frase de final de resenha é do Leminski.

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