sábado, 23 de março de 2013

Tudos – Arnaldo Antunes


“ O Silêncio não se lê”
Arnaldo Antunes era vocalista dos Titãs. E você provavelmente conhece ele (isso se você não esteve nos últimos anos morando em Marte). Pois muito bem. Arnaldo Antunes é aquele simpático vocalista que também assinava diversas composições do grupo. Ele deixou os Titãs, a banda seguiu sem ele, e ele seguiu carreira solo, mas isso não nos interessa nem um pouco. O que interessa é que Arnaldo Antunes é um poeta, compositor, brilhante, e o que interessa é que essa semana eu li Tudos, um livro dele, datado de 1990, e foi tão boa a leitura que eu estou indicando aqui nessa sexta-feira.

O livro é daqueles que você lê em 20 minutos, e por Deus, isso não o desmerece de forma alguma, Arnaldo Antunes coloca um novo olhar sobre a poesia concreta, movimento surgido no Brasil na década de 50, pelas mãos de Augusto de Campos. Você que não conhece poesia concreta, devia correr agora até o Google e se deliciar. O livro de Antunes, tem poesia concreta, sim, e tem mais que só apenas isso.

Vale ressaltar, e isto é trabalhado pelo autor por todo o volume: A primeira página contém um ponto de interrogação. É um livro que não tem qualquer resposta de nada, mas está cheio de perguntas, quem o lê vai começar a se perguntar um turbilhão de coisas, o livro desperta a curiosidade, desperta a sagacidade do leitor, porque o livro está falando de muita coisa, ao mesmo tempo que fala de quase nada (e espero que vocês estejam me entendendo).
Como o próprio titulo sugere, o autor quer falar de tudo, e tudo cabe num livro. E então ele faz um caminho bastante interessante pelas páginas do livro. Utiliza a poesia concreta, e faz diversos jogos de palavras que nos levam a virar página a página, o segredo maior de Tudos, está naquilo que Arnaldo Antunes não diz. Naquilo que nós temos que subentender do que foi lido.
O autor abusa de desenhos, e da maneira como as palavras são dispostas por todo o livro, abusa de anáforas, e como eu já disse de jogos de palavras que só engrandecem a obra. Poderia ser uma pretensão enorme, querer falar de Tudo, em um simples livro, porque tudo, a meu ver parece coisa demais, e você deve concordar comigo. Mas, não é que o livro fique pouco aprofundado, não, o barato dele é justamente isso, é aquilo que a gente tem que imaginar da leitura que está fazendo, é aquilo que a gente precisa pensar, refletir, depois de cada palavra que a gente lê.

Se você ainda não se sentiu interessado pelo livro, vale comentar, que o autor além de trabalhar com as dúvidas, e as incertezas, o faz de forma brilhante, bem argumentada, e o que é melhor atentando para as coisas simples, aquelas que fazem parte do nosso dia a dia, mas que nós não nos damos conta, sequer percebemos a diferença imensa que elas podem fazer. E são justamente essas pequenas coisinhas, que no final, ao ler no livro acaba nos deixando pensativos, e envoltos a nós mesmos virarmos aquela interrogação que estava lá na primeira página do livro. E acredite, os vinte minutos gastados com o livro, que é de leitura muito fácil e agradável, valem cada segundo, dá pra dizer que é quase uma viagem filosófica sobre todas as coisas, todas as coisas que estão ao nosso redor.

Eu que nunca tinha lido nada assim do autor, me surpreendi, o livro é mais que eu novo olhar sobre o concretismo, e é mais que simples poesia moderna, é mais que tudo isso, é tudos. (e perdão pelo trocadilho infame).

“Pensamento vem de forae pensa que vem de dentro,pensamento que expectorae que no meu peito penso.Pensamento a mil por hora,tormento a todo o momento.Porque é que penso agorasem o meu consentimento? Se tudo que comemoratem o seu impedimento,se tudo aquilo que choracresce com o seu fermento;pensamento, dê o fora,saia do meu pensamento.Pensamento, vá embora,desapareça no vento.E não jogarei sementesem cima do seu cimento.”

Indicação do Aion.
[chega de chegar, depressa é muito devagar]

Nenhum comentário: