segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

On the road - Jack Kerouac



"Eu não tenho nada para oferecer a ninguém, exceto minha própria confusão”.

Depois de algumas semanas recomendando algumas obras um pouco mais desconhecidas para alguns (e nem tanto para outros), volto com algo diferente, e de certa forma, até meio amedrontador. Imagino que boa parte aqui já leu On The Road, e a outra parte, ao menos ouvir falar. E deve ter ouvido falar bem. On The Road possui uma fama por ser a bíblia da geração beat (sim sim, aquela geração que além de Kerouac, teve caras como Allen Ginsberg ou William Burroughs). Movido a jazz e velocidade, On The Road é sem dúvidas um dos livros mais aclamados do último século, e é até hoje best-seller no mundo todo. Bem, chega desse blá blá blá clichê.

Alguns dizem que Kerouac escreveu On The Road em 3 semanas. Completamente entorpecido e escrevendo alucinadamente. O livro teve anos de rejeição antes de ser lançado, e dizem que durante a revisão dos quilômetros de papel, toda a gramática e ortografia do livro teve de ser revisada, pois Kerouac não se preocupava muito com vírgulas ou pontos.

Vamos a uma pequena sinopse. Bem na realidade, vou deixar uma sinopse realmente pequena e sucinta, pois esse não é meu objetivo na resenha. Quero deixar impressões. Sinopses podem ser encontradas em qualquer lugar na internet.

Sal Paradise vive com sua tia em Nova York. Universitário e tentando ser escritor, passa por algumas crises de inspiração, e percebe que realmente precisa de experiências neste sentido. Um dia, através de seus amigos, conhece um maluco de Denver chamado Dean Moriarty. Dean é um sujeito insano, rápido, enérgico e magnético. Um cara realmente faz a coisa acontecer. Seu personagem é totalmente intenso, espontâneo e até indiferente. É coberto por urgência e agitação. Desta forma, os dois rapazes com sua ânsia de experiências, deixam Nova York para atravessarem os Estados Unidos (e depois voltar, e atravessar novamente, enfim), e boa parte da jornada feita apenas de caronas. On The Road não é apenas uma viagem pelo país, e sim uma viagem de autoconhecimento.

Em uma linguagem simples, rápida e direta, o livro é uma completa transgressão. Possui um magnetismo incrível. Em cinco viagens descobrimos o estilo de vida do personagem, da geração em si. Coisas desenroladas e temporais, você realmente adentra na onda daquilo e deixa-se levar pelo jazz, bebidas e sexo. Sem falar que possui algo realmente especial, que é de acordo com que Sal vai conhecendo pessoas em sua jornada, ele ouve histórias diferentes, diversificadas. Cada história, cada lugar, cada ser eterno. Sobre qualquer coisa, On The Road significa liberdade, amizade, desprendimento de qualquer tipo de rotina imposta. A ânsia por viver, por ter experiência e simplesmente soltar um "Porra, dane-se, vamos fazer". Alguém me disse que sua narrativa não é como a de um livro, e sim de alguém que está em um bar contando alguma história. É, eu devo concordar com isso. O livro te traz uma impressão que o mundo não gira em seu redor, e aquela vida fechada que você tem, não significa o que realmente existe aí fora. Como diria a frase de Allen Saunders, que depois fora cantada John Lennon (sujeito que foi extremamente influenciado pela geração de Keroauc): "A vida é o que acontece enquanto você está ocupado fazendo outros planos".

"O que me importava? Eu era um jovem escritor e tudo o que eu queria era cair fora"

Poucos sabem, mas On The Road, em seu manuscrito original (que foi lançado pela editora L&PM recentemente, e possui 140 páginas a mais que o livro primeiramente lançado) foi utilizado o nome real dos personagens. Sim, On The Road é uma história real, e além disto, muito de seus personagens são conhecidos, inclusive dois são escritores de sucesso. Por exemplo, separei aqui o nome real de alguns dos principais personagens: Sal Paradise é o próprio Jack Kerouac. Dean Moriarty trata-se de Neal Cassady, que além de amigo e ícone, apareceu em poemas e músicas. Carlo Max não é nada menos que o renomado poeta Allen Ginsgberg, e Old Bull Lee também é o famoso escritor William S. Burroughs.

São inúmeras as influências que On The Road foi para toda uma geração. Inspirou caras como Bob Dylan, Jim Morrison, Hunter Thompson. Segundo Bob Dylan, On The Road é o livro que mudou a sua vida e a de todo mundo, e também foi o livro que leu antes de fugir de casa. Ray Manzarek, tecladista da banda The Doors, diz que: "Se Jack Kerouac nunca tivesse escrito On The Road, The Doors nunca teria existido." A banda Beastie Boys cita On The Road algumas vezes, quando na música 3-Minute Rule é feita uma referencia ao livro. A livro também influenciou na letra da música "High Plains Drifter", da mesma banda. Na televisão, no episódio "Fran Tarkenton" da série Weeds, há diversas referencias a Kerouac e sua obra.

Para quem não sabe, o livro possui uma adaptação cinematográfica, mas, sinceramente, eu a considero totalmente dispensável. Digo, não é tão ruim assim, mas o filme não capta nem 1/3 da essência do livro. Apesar do diretor ser o brasileiro Walter Salles (que é um cara que gosto de seus filmes), eu já sabia que iria ser assim. Não tem como captar On The Road sem ter ao menos uns 3 ou 5 filmes, um para cada viagem. A única coisa que achei realmente boa foram os atores, pois acho que fizeram um trabalho excepcional. Souberam muito bem interpretar os personagens do livro e seus modos. De qualquer forma, para quem tiver interesse, o filme tem o mesmo nome do livro.

Não sei muito bem o que dizer a vocês no final dessa resenha.

Foi uma das resenhas mais completas que já fiz, e há muito tempo estava a prolongando aqui. Nunca é fácil escrever sobre On The Road.

Minha vontade é de deixar pelo menos uns 15 trechos e aforismos do livro aqui.

"Porque pra mim pessoas mesmo são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo agora, aqueles que nunca bocejam e jamais falam chavões, mas queimam, queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício explodindo como constelações"

That's all, folks!

Indicação do Luiz A. Jr.

Me desculpe por não ter postado na semana passada. Rolou uns imprevistos aí.

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