sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Dias e noites de amor e de guerra – Eduardo Galeano.




“Nada é mais horrivel e poético do que a verdade”


Todos nós temos as nossas chamadas décadas favoritas. Nos períodos históricos, sempre existem as décadas que foram marcadas por alguma coisa. Os anos 40 por exemplo, a segunda-guerra mundial, os anos 30, a ascensão do nazismo e do fascismo. Os anos 80, (e os meus favoritos) a música. Pois bem,essa semana escolhi um livro que fala sobre duas décadas pelas quais eu também tenho um certo apreço: Os anos 60 e os anos 70.

Eduardo Galeano, o autor do livro, viveu na referida época, e foi exilado quando um golpe militar atingiu o país em que vivia, o Uruguai. Aliás, golpes militares foram o que mais pipocaram naquela época, por toda a América Latina. Vamos começar com uma aulinha de história: nos anos 60, o mundo vivia o auge da Guerra Fria, o final da segunda-guerra mundial; e então a divisão da Alemanha separou o mundo em dois grandes blocos: uma guerra ferrenha entre o capitalismo e o socialismo. Não quero entrar no mérito de quem estava com a razão, quero apenas dizer que todo esse mundo, todas essas coisas são o palco das histórias que Galeano, que mesmo abertamente socialista, apresenta em seu livro.

Vale lembrar que o medo da expansão do Socialismo fez com que os Estados Unidos usassem ainda mais a sua influência para evitar o espalhamento do comunismo pelo mundo, toda essa conjuntura internacional corroborou para a instauração dos regimes militares, e mais a frente para os anos de chumbo da América Latina.
Dias e noites de amor e de guerra, trata-se da união de histórias sobre o período ao qual eu me referi, sobre a vida de pessoas comuns, que lutavam com todas as forças para sobreviver, sobre opositores aos regimes totalitários que se instauravam, sobre pessoas que saíam da alienação, ou aqueles que preferiam continuar fingindo que nada estava acontecendo. O autor fala de todos os países da América Latina, ambienta histórias no Brasil, na Argentina, No Chile, na fronteira do Uruguai...

Digo que é uma união de histórias, porque aquelas histórias que Galeano apresenta não podem ser tomadas como crônicas, ou como relatos pessoais, porque da maneira como são apresentadas são muito mais do que isso.
O autor apresenta a vida de pessoas comuns, presos politicos, personalidades ilustres, e nós leitores não sabemos se aquilo que ele esta escrevendo trata-se de realidade ou de ficção, ainda mais quando ele intercala com as histórias situações vividas por ele quando era jornalista, todas narradas em primeira pessoa num tom de total proximidade com o leitor; isto tudo torna a leitura mais agradável.

Algumas histórias quando as terminamos, nos fazem ficar mal, ao pensar que pessoas morreram porque não concordavam com o seu governo, ou então, pura e simplesmente por sua orientação política. Ao abordar duas décadas tão conturbadas em toda a América Latina, Galeano faz um apelo, para que aquilo tudo não volte a se repetir, para que os anos de chumbo não aconteçam novamente, para que o ser humano tenha liberdade de pensamento.
Dias e noites de amor e de guerra, é um desses poucos livros que discutem de maneira inteligente, anos de repressão, resistência e intolerância, e que consegue trazer toda a angústia da Guerra Fria junto com suas histórias, e com os personagens nelas ambientados. E além disso, o livro consegue também discutir temas atemporais.

Bem é isso aí gente bonita, espero que vocês gostem deste livro, que me fez olhar para os anos dos quais ele fala com outros olhos. Talvez, porque ao não saber se é verdade ou ficção, o livro te leva da primeira a última página de maneira fantástica, e ao final, ahhh o final, Vou fazer suspense e não vou contar mais nada, porque quero que você aí jovem leitor, também chegue até ele e descubra as coisas que eu descobri.

“Orlando Rojas é paraguaio, mas vive em Montevidéu há anos. Conta que uns policais surgiram em sua casa e levaram os livros. Todos: os de política e os de arte, os de história e os de flora e fauna. No grupo havia um sujeito jovem, sem uniforme, que se punha lívido e uivava, ante certos títulos, como um inquisidor ante uma festa de bruxas.Um oficial desafiou Orlando:-Vocês gritam muito, mas não são uma meia dúzia.- Somos meia dúzia. Por enquanto somos meia dúzia – disse o paraguaio, que fala muito devagar – Mas quando formos sete...Levaram-no também. Ficou preso e depois o soltaram. Na semana seguinte tornaram a prendê-lo:- Seu depoimento sumiu.Foi maltratado e depois expulso do Uruguai. Em Buenos Aires, a policia estava esperando por ele. Tiraram seus documentos.- Tive sorte – diz Orlando.- Vá embora – digo – Eles vão te matar.”

Indicação do Aion
[chega de chegar, depressa é muito devagar]

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