quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Um Artista da Fome - Franz Kafka


Mudando um pouco os ramos, esta semana deixarei de fazer resenha sobre um livro, para fazer resenha de um conto.
Muitos de vocês conhecem Franz Kafka, principalmente pela sua genialidade em A Metamorfose, mas acredito que não muito de vocês ouviram falar sobre o seu texto conhecido como Um Artista da Fome, que em minha opinião está certamente entre os melhores contos de Kafka. É dele que hoje irei relatar.

A história trata-se de um artista que sua arte é jejuar, e é visto por grandes públicos por onde passa. Seu empresário não o deixa jejuar por mais de 40 dias. Ninguém realmente entende o motivo daquilo, mas atrai grandes multidões. Com o tempo, as atuações do artista perdem a atenção pelo público, e ele torna-se chacoteado nos grandes circos da época. Desta forma, o artista resolve, sozinho (após perder empresário e público) jejuar em uma jaula próxima a um circo, mas desta vez não há contagem de quantos dias o jejuador ali permanece sem alimentar-se. Sem a atenção de pessoas que por ali transitam, o protagonista jejua até a morte.

Kafka, além de expor o quão trivial pode-se tornar as habilidades de um artista, através do conto analisa a arte de sua época, pois eram poucos que conseguiam manter-se neste meio. Simplesmente fazer arte pela arte. A arte significando a vida e a morte. Há também outra analogia que pode ser descrita, que é a referencia a comercialização da arte, e a mudança que os tempos trazem a esta. O passa por momentos prósperos, para logo ser esquecido pela multidão. Aquela mesma que entendia o movimento de sua arte.

Em alguns textos sobre Kafka, pode-se encontrar dito que este conto trata-se de um alter ego do próprio autor, pois durante a época que escreveu o conto, Kafka sofria de tuberculose, e sentia imensa dificuldade de alimentar-se, devido a degradações na laringe.

Para o artista da fome, o ato de jejuar, ou seja, sua arte, é a sua existência, e a perfeição do ato de jejuar, ou seja, o único momento que atinge-se a completa satisfação da arte, é na morte.

Está aí uma ótima leitura para o final de semana de vocês.

"Podia jejuar da melhor forma que lhe fosse possível — e ele o fazia —, mas nada mais poderia salvá-lo, as pessoas passavam por ele sem lhe dar atenção. Tente explicar para alguém a arte de jejuar! Não é possível fazê-la entender a alguém que não a sente. Os belos cartazes foram ficando sujos e ilegíveis, foram arrancados, e ninguém pensou em substituí-los; a tabuleta com o número dos dias jejuados, que nos primeiros tempos tinha sido renovada cuidadosamente a cada dia, continuava a ser a mesma fazia muito tempo, porque depois das primeiras semanas o pessoal ficou achando demais até mesmo esse pequeno trabalho; e desse modo, embora o artista da fome continuasse a jejuar, tal como outrora sonhara, e conseguisse fazê-lo sem grande esforço, tal como ele o tinha predito então, ninguém mais contava os dias, ninguém, nem mesmo o próprio artista da fome, sabia quão grande já era o seu desempenho, e o seu coração ficou pesaroso. E se alguma vez, nesse tempo, um passante que não tinha nada melhor o que fazer se detivesse, zombasse da velha cifra e falasse de fraude, isso era, à sua maneira, a mais tola das mentiras que a indiferença e a maldade inata pudessem inventar, porque não era o artista da fome quem fraudava — ele trabalhava honestamente —, mas era o mundo quem o defraudava de sua recompensa."

That's All Folks.

Indicação do Luiz A. Jr.

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