sábado, 29 de dezembro de 2012

Laranja Mecânica - Anthony Burgess


Vamos falar de coisa boa, gente? Mas não da Iogurteira Top Therm não. Hoje na resenha de presente de Natal da Posso te indicar um livro? a bola da vez é Anthony Burgess com mui bem conhecido Laranja Mecânica – no Brasil, especialmente conhecido através do filme. O livro, que faz parte da chamada “tríade do futuro distópico” – 1984, Admirável Mundo Novo e Laranja Mecânica – poderia ter sido escritoontem ou ainda, amanhã, e que, no entanto data de 1962 (um pouco mais jovem do que os outros dois componentes da tríade).

Laranja Mecânica é um desses livros que a gente começa a ler e lá na primeira página tem aquela sensação: este livro vai ser fenomenal. E o mais legal é que isso se confirma quando você chega ao final dele. A ressaca literária é das mais compridas, avisamos.

Aliás, desculpem o tom informal mas esta resenha é uma resenha compartilhada, como vocês entenderão no final, por duas pessoas que morrem de ciúmes da mesma história.

Somos suspeitos para falar, simplesmente amamos a história, conhecida primeiramente no filme de Stanley Kubrick (aguarde o pessoal do Cinedicas!), MAS não estamos aqui para falar do filme e sim do livro que o originou.

Laranja Mecânica conta a história de Alexander de Large, ou melhor, Alex (assim, mais íntimo) conta-nos sua história num testemunho em primeira pessoa, que te insere na história e faz parecer que fazemos parte dela, a cada página, a cada linha. Alex se refere a nós os jovens leitores como “Irmãos”, como se estivéssemos num Lactobar ouvindo um causo no mínimo, peculiar. Alex vive numa Londres num futuro indeterminado, mora com os pais, tem gostos muito particulares que variam de música clássica até ultraviolência. Toda a noite sai com um grupo de amigos (os seus druguis) para praticar atos não mui corretos, como roubos, diversão ao espancar pessoas, o velho entra-e-sai, etc. etc. Alex faz o seu testemunho utilizando de uma linguagem também peculiar: o nadsat.

O nadsat é o idioma utilizado na narração do livro por Alex, que não tem preocupações formais e conta sua história da maneira que a vê (e que a falaria), e compartilhado pela maioria dos demais personagens. É a união de gírias em russo e em inglês, o que configura ao idioma uma identidade extremamente jovial. Se faz necessário dizer que no livro, a presença do nadsat, a linguagem utilizada pela juventude, ser exatamente a língua oficial, trata-se de uma confirmação do que vem acontecendo naquela sociedade futurista: a juventude é quem está dando as cartas por lá, a juventude “transviada” é quem domina a sociedade, e os anciões se vem presos e com medo até de sair de casa.

O autor tem a idéia do nadsat quando passa a observar as gangues que batalham pela sua cidade: como cada um tem suas gírias e linguagem particulares. Como ele não queria copiar nem de uma, nem de outra gangue, sincretiza o russo e o inglês dando origem a palavras divertidas, que permeiam todo o texto e te fazem deduzir o significado pelo contexto. É quase um livro narrado numa língua estranha – uma jogada literária sensacional.

Outra sacada mais que genial do livro é a presença de um escritor, com quem Alex acaba esbarrando; este escritor se chama Alexander, e está escrevendo um livro chamado Laranja Mecânica. Em outro ponto da narrativa, Alex refere-se a si mesmo como uma laranja mecânica. O porque do titulo do livro? Deixaremos que você descubra por sua própria conta. Uma curiosidade sobre Laranja é a de que ele sofreu imposições da censura na época de seu lançamento, por suas narrações de alta violência, o que depois se estenderia ao filme de Stanley Kubrick.

Alex é um jovem de 15 anos ao início do livro; um pequeno monstrinho, um pequeno psicopata. Como temos acesso a seus pensamentos, podemos entender que ele não é mau por seu meio, por sua criação ou um motivo externo a ele; não, Alex é mau porque é mau e porque se diverte praticando suas maldades, sua ultraviolência. As circunstâncias da violência juvenil na sua Inglaterra, são é claro, parte de seu ninho, mas devemos encarar Alex afinal, como alguém que decide ser mau.

É engraçado notar que embora Alex pratique atos de violência que nos repugnam, tais como estupro e assassinato, é impossível não se afeiçoar a ele como menino e como Nosso Humilde Narrador. Termine o livro e te damos um chocolate (de Gramado, heim!) se não estiver apaixonado pelo nosso drugui.

O livro em si é dividido em três partes, a primeira mostrando a vida confortável de arruaceiro do protagonista, a segunda quando ele é pego pela policia, e sua reabilitação, e a terceira e final quando o jovem Alex é jogado de novo ao mundo, agora já sem direito de escolha sobre si próprio.

A parte da reabilitação é uma das sacadas geniais que configuram ao livro sua importância literária e a entrada ao rol do futuro distópico. Alex é submetido a um processo de condicionamento que impede sua capacidade de cometer maldades. Por meio de uma reação adversa, uma reação negativa que ocorre em seu corpo quando tenta cometer algum ato ruim (Alex sente náuseas quando pensa em violência), nosso protagonista é tolhido em seu livre-arbítrio – em sua vontade e em sua natureza más – e reside aí uma possibilidade aterradora: ser contido, ser privado de sua própria personalidade por uma força externa.

O Livro constrói um enredo que vai crescendo a cada capitulo, um acontecimento puxa o seguinte, que puxa o seguinte, que te leva página por página a se interessar pela história e a não abandoná-la.

A recomendação é forte e a vontade de dar spoiler é ainda maior. No entanto, respeitamos e entendemos que nossos leitores possam ter problemas com isso (nós não temos). Esperamos que a resenha tenha sido satisfatória. Ela foi motivo de algumas discussões, uma vez que eu, Amanda e meu amigo Aion morremos de ciúmes da história (eu particularmente do futuro distópico, ele particularmente da história pela qual se apaixonou através do filme).

Esta é a nossa primeira resenha especial, e a tentativa se repetirá na primeira semana do ano de 2013. Pra semana que vem, resenha dos melhores livros que lemos no ano, então fique ligado!
A Posso te indicar um livro? deseja um felicíssimo depois do Natal, e que seu 2013 seja cheio de livros!


Indicação do Aion e da Amanda.

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