sábado, 22 de dezembro de 2012

Não fosse isso e era menos, não fosse tanto e era quase – Paulo Leminski



“acordei bemol, tudo estava sustenido, sol fazia, só não fazia sentido ”

Esse delicioso livro de Paulo Leminski vem acompanhado do subtítulo (de 63 pra cá). Sua publicação data dos charmosos anos 80. O livro no entanto, tem claras características do movimento literário Concretismo, literatura brasileira dos anos 60, onde as palavras brincam e dançam no papel.

E aqui entram todos as qualidades de Paulo Leminski, um escritor brasileiro, nascido em Curitiba, cidade onde viveu grande parte da vida; e eu não poderia deixar de mencionar que sua obra é simplesmente maravilhosa em todos os níveis possíveis e imagináveis.

O livro é uma série de poemas curtinhos, alguns os famosos hai-cais com rimas encantadoras, outros brincam com as palavras, com o fazer da poesia, com os sentimentos do poeta em si. Não fosse isso e era menos, não fosse tanto e era quase (o próprio titulo da coletânea já traz uma amostra do que será visto no livro e o que Leminski sabia fazer de melhor) é um delicioso testemunho da obra de Leminski, que leva o leitor a um mundo diferente, um mundo tão parecido e tão diferente do nosso.

Há uma deliciosa peculiaridade neste livro: a editoração dele faz parecer que foi inteiro, inteirinho, batido na máquina de escrever, letra por letra, o que aproxima o leitor ainda mais do poeta. 

O livro, discute o amor, a vida, a diferença da poesia na vida do poeta. Como o autor cria seus universos paralelos através das palavras; essa metalinguagem, aliás, é uma das marcas registradas de Leminski, e neste livro é feita engenhosamente. 

Uma linguagem simples e descompromissada, uma leitura fácil e agradável, por vezes lúdica e divertida, emocionante; a cada página virada, um novo poema, um novo mundo a ser desvendado, novas construções de palavras e rimas a serem analisadas. 

Tem de tudo aqui, de concretismo vamos aos hai-cais, passando por metapoesia, e ainda fazendo crítica social. Rimas bem construídas e diversão, num livro simplesmente fascinante, assim como toda a obra de Paulo Leminski.

A verdade é que não sei mais o que dizer sobre esse livro, e por isso a resenha vai ficando por aqui. Vou ser piegas dizendo que a obra de Paulo Leminski fala por si, e devo dizer a todos que corram o mais depressa possível para conhecê-la, e aí sim se maravilhar e concordar com tudo o que eu disse.

“ de repente
me lembro do verde
da cor verde
a mais verde que existe
a cor mais alegre
a cor mais triste
o verde que vestes
o verde que vestiste
o dia em que eu te vi
o dia em que me viste
de repente
vendi meus filhos
a uma família americana
eles têm cigarro
eles têm grana
eles tem casa
a grama é bacana 
só assim eles podem voltar
a pegar um sol em copacabana” 

Quebrando as regras, vou colocar aqui outro trecho do livro, mais um poeminha completo:

“apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois 
de mim
de nós
de tudo
não reste mais
que o charme”

Indicação do Aion

[nos perderemos entre monstros, da nossa própria criação]

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