sábado, 19 de janeiro de 2013

Noite na Taverna - Álvares de Azevedo



“Olá, taverneira, bastarda de Satan, não vês que tenho sede, e as garrafas estão secas, secas como tua face, como nossas gargantas?"
5 amigos estão em uma taverna bebendo e conversando. Bebendo e conversando, bebendo e discutindo, bebendo e relembrando o passado, bebendo e contando histórias. É mais ou menos sobre isso que trata Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo, um dos seus melhores livros, parte da pequena porém grandiosa obra que Azevedo nos deixou.

Tratam-se de 7 contos (e que pena que seja assim), o primeiro uma introdução sobre o que está acontecendo, sobre como os 5 amigos se encontraram e onde estão bebendo. Logo em seguida somos remetidos aos outros contos, cada um levando o titulo do nome de cada um dos amigos, e aí cada um deles toma as rédeas da conversa e começa a contar um caso, uma história que tenha acontecido consigo, em comum estas histórias tem que são todas envolvendo a morte, o amor, mulheres, e tocando em temas polêmicos incesto, canibalismo e necrofilia. Tudo é contado por cada um daqueles amigos e nós somos levados a ir junto com eles até a Europa, onde grande parte dessas histórias se passam.

Cada história, cada conto do livro te leva a emoção, a ler avidamente cada página até chegar ao final e terminar, para que na ligação com o próximo conto você já seja levado a seguir o próximo, o próximo e o próximo.
O único problema de Noite na Taverna é o seu tamanho, apenas 90 páginas, simplesmente fantásticas e dá aquela peninha de pensar: “Poxa, daqui a pouco eu vou terminar, o que será da minha vida depois disso?”
Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius, Johann, estão bebendo, e conversando, e contando suas histórias, seus casos amorosos, como foi quando estiveram com uma mulher, as consequências disso, o medo, o desejo, o prazer, tudo isso com o bônus de que é Álvares de Azevedo que escreveu, e com todas as suas angústias dos poetas românticos (aqueles uns da 2ª Geração do romantismo, que queriam morrer aos 20 anos) simplesmente retratadas com toda a perfeição do mundo.

Cada história gira em torno disso, são conflitos até basicamente simples, mas a maneira que são contadas deixam o leitor ávido para terminar a leituras, o macabro também está presente por todo o livro, o que a meu ver dá um gosto ainda mais especial.
Falar sobre a morte, parece de certa forma até fácil, mas a maneira como Álvares de Azevedo escreve em Noite na Taverna é daquelas maneiras que dá vontade de dar um abraço de agradecimento, cada linha, cada letra chama a atenção, cada conflito, cada história te encanta, te chama, e é ainda maior a vontade de terminar o livro.

Repito, é uma pena que sejam somente 7 contos; a introdução, as cinco histórias de cada um daqueles amigos que estão lá bebendo, e depois o último conto (e na minha humilde opinião o melhor) Último beijo de amor, onde toda a carga dramática é acionada, todas as angústias daqueles homens são levadas as últimas consequências, e ainda há o bônus a uma referência clara ao amor impossivel mais clássico de todos os tempos: Romeu e Julieta, e os amantes de Shakespeare que me perdoem, mas a simples referência, chega a conseguir se equiparar ao original, para não dizer que Azevedo criou uma cena com mais carga dramática do que aquela a que faz referência.

E o livro ainda tem um gostinho a mais, o da dúvida, o tempo todo aqueles amigos estão bebendo, e bebendo, e bebendo, e contando entre si suas histórias, que eles juram ter acontecido de verdade, mas será? Será que eles não estão tão embriagados que chegam a inventar todas aquelas coisas?
Noite na Taverna é um desses livros que quando você chega ao final, você simplesmente não quer chegar, porque ele é tão maravilhoso, tão fantasticamente fantástico, que quando ele acaba, você se obriga a ler de novo, e esse humilde leitor que vos fala garante que a segunda leitura é ainda mais deliciosa, mas a terceira [...] Repito! Que pena que sejam só 90 páginas.

“ — Poesia! poesia! — murmurou Bertram. —Poesia! por que pronunciar-lhe a virgem casta o nome santo como um mistério, no lodo escuro da taverna? Por que lembra-la a estrela do amor a luz do lampião da crápula? Poesia! sabeis o que e a poesia? —Meio cento de palavras sonoras e vãs que um pugilo de homens pálidos entende, uma escada de sons e harmonias que aquelas almas loucas parecem idéias e lhes despertam ilusões como a lua as sombras Isto no que se chama os poetas. Agora, no ideal, na mulher, o ressaibo do ultimo romance, o delírio e a paixão da ultima heroína de novela, e o presente incerto e vago de um gozo místico, pelo qual a virgem morre de volúpia, sem saber por que. . — Silencio, Bertram! teu cérebro queimaram-to os vinhos, como a lava de um vulcão as relvas e flores da campina. Silencio! es como essas plantas que nascem e mergulham no mar morto: cobre-as uma cristalização calcaria, enfezam-se e mirram. A poesia, eu t'o direi também por minha vez, e o voo das aves da manha no banho morno das nuvens vermelhas da madrugada, e o cervo que se role no orvalho da montanha relvosa, que se esquece da morte de amanha, da agonia de ontem em seu leito de flores! —Basta, Claudius: que isso que ai dizes ninguém o entende: são palavras, palavras e palavras, como o disse Hamlet: e tudo isso e inanido e vazio como uma caveira seca, mentiroso como os vapores infectos da terra que o sol no crepúsculo irisa de mil cores, e que se chamam as nuvens, ou essa fade zombadora e nevoenta que se chama a poesia! —A historia! a historia! Claudius, não vês que essa discussão nos fez bocejar de tédio? —Pois bem, contarei o resto da historia. No fim desse dia eu tinha dobrado minha fortuna.”

Indicação do Aion
E este foi o melhor livro que eu li em 2012. 


[chega de chegar, depressa é muito devagar]

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