domingo, 20 de janeiro de 2013
Morte Súbita - J.K Rowling – CRÍTICA
ATENÇÃO: ISTO É UMA CRÍTICA, NÃO UMA INDICAÇÃO NORMAL.
Eu sou uma grande fã de Harry Potter. Sim. Foi Harry Potter – embora eu goste de ressaltar que não exclusivamente – que me inseriu de forma tão profunda e apaixonada no mundo da literatura. De algum tempo para cá, porém, quando fui adquirindo maturidade literária e capacidade crítica, a partir da interminável lista daquilo tudo que já li, fiquei um tanto desapontada com a qualidade da escrita de J.K.
Eu ainda sou completamente apaixonada pela história de Harry Potter. Mas me convenci de que a série não passa disso: uma história. A autora teve grande habilidade de criar uma história, preenchê-lo com detalhes da sua imaginação e dar vida ao mundo da magia. Entretanto, a técnica e qualidade literária de J.K não parecem absolutamente sensacionais quando comparada a outros autores que também escrevem no mesmo gênero. Um exemplo bem claro é C.S. Lewis, de Crônicas de Nárnia. Lewis se utiliza de elementos e de características da escrita, de macetes que enriquecem sua obra deixando-a impecável em termos de narração e também construção da narração. J.K tem força inquestionável em termos de história, em termos de mundo ficcional. Mas a meu ver, ela deixa a desejar em recursos de escrita. É uma história bem narrada, e no fundo, nada além disso.
Por esses motivos eu aguardava Morte Súbita (ou Casual Vacancy, no inglês original) com tanta ansiedade. Ele seria um meio de provar que a minha autora favorita dos tempos de criança não merecia uma decepção tão grande na vida adulta. De provar que J.K sabia narrar com recursos literários e que podia se equiparar a outros que haviam se tornado meus autores favoritos.
Mas, como nem tudo é bom na vida, Morte Súbita foi em muitos aspectos, uma decepção. Nele se manifesta, é verdade, a capacidade tão bem conhecida da autora de nos prender a um livro como um bebê se prende à mãe – foram as 500 páginas em duas madrugadas. Você poderia me dizer então, que era uma história, uma narração incrível, e eu precipitadamente concordaria.
Mas não.
J.K nos introduz a Pagford, um distrito extremamente provinciano perdido num canto qualquer da Inglaterra. E aí começam os primeiros erros. Ou desapontamentos. J.K não foca a narração em um único personagem – tal qual Harry – e isso seria justificável pelo tipo de narração que se construirá; mas ela nos apresenta a personagens demais. Tantas famílias e sub-núcleos como os de uma novela. Você quase fica esperando o núcleo do humor, o núcleo pobre, o núcleo rico – e isso se verifica uma verdade depois que avança mais um pouco. São tantos personagens que o tempo todo foi necessário ficar voltando para conferir sobrenomes, famílias e ocupações, o que é extremamente desagradável no prosseguimento da leitura.
Mas Amanda, diversos autores de peso fazem isso. É verdade, pequeno forasteiro. O número excessivo de personagens não seria um problema se Rowling não demorasse TANTO para engatar finalmente a trama. A autora perde metade do livro – não estou exagerando, são 250 páginas – apenas para ambientar a quantidade imensa de personagens que criou. Até a metade do livro, há um excesso de narração que definitivamente não combina com o tipo de história que a escritora resolveu criar.
É uma narração exaustiva. E pouco ou nada acontece até a metade do livro, somos apenas ambientados aos personagens. Se isso tem a vantagem de finalmente não nos fazer ficar voltando conferir nomes e ocupações, por outro lado, descola totalmente da proposta de Morte Súbita.
Vamos ver se você me entende. A história trata de como a morte súbita de um homem, Barry Fairbrother pode mexer tanto com a vida local e política de Pagford. Esse tipo de narrativa, que a orelha descreve tão bem: quando a primeira peça da fileira de dominós cai, todas as outras vem abaixo, é exatamente o tipo de narrativa que se processa MUITO rápido. Não há tempo para perder metade do livro introduzindo. As coisas devem acontecer, ou você corre o risco de, como J.K., narrar demais.
As vias de fato só começam a ocorrer na história depois da metade. Quando isso acontece, podemos sentir quase a volta de Rowling na série Harry Potter: todos os dominós vão finalmente caindo.
Isso faz o livro ficar legal, Amanda?
Em termos, pequeno forasteiro. Apenas em termos. A capacidade narrativa não mais embotada pelo excesso de narração faz J.K brilhar, mas algo que vinha incomodando durante a primeira metade do livro torna-se na segunda algo irritante. E isso sepulta com a última pá de terra a minha decepão.
A mídia insistiu bastante na questão deste ser o primeiro romance “adulto” de J.K – a despeito do fato da saga Harry Potter ter sido tão lida que metade do seu público é necessariamente adulto. Fiquei curiosa com isso. Descobri que o “adulto” não se traduz em complexidade de trama e uma linguagem mais aprimorada – não, “adulto” quer dizer masturbação explícita, palavrões nos diálogos, vício em drogas, sexo, etc etc etc. Por meio de adolescentes estereotipados, Rowling acaba caindo na própria cilada: não são os adultos que cometem as adultices – são exatamente adolescentes da idade média de seu público de Harry Potter.
Ao pretender se distanciar de Harry pelo uso do sórdido e da vida real – da “autenticidade”, como seu personagem Bola Wall gostaria de completar – a autora esquece de dois pontos fundamentais: o primeiro, é que era óbvio que seu público não ia ser adulto. Seus fãs adolescentes são os que mais aguardaram o lançamento do livro. Isso tem a ver com a segunda consequência: ela desaponta exatamente esse público. Que não está amadurecido para temas que eram de autores da geração beat, temas que são buscados por um tipo diferente de leitor.
Ao escrever Morte Súbita, ela escreve na verdade um Harry que fala palavrão e é cheio da miséria humana. Porém, ela só dispunha de um livro para fazer aquilo que fez com tanto brilhantismo em sete. Ou seja, ela comete o erro de narrar demais em um livro só e ofuscar a ação com isso.
Que seja mencionado. As questões que ela levanta: o uso de drogas, a superficialidade das relações humanas e sua hipocrisia, a dor e a morte são muito bem levantadas. Ponto pra J.K. Pena que os pontos ficam só por aí.
Podem me matar nos comentários. Beijo galera!
Crítica da Amanda.
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