[gotta admit that I’m little bit confused
sometimes it seems to me as if I’m just being used]
Terminamos 2012 com o especial da Laranja Mecânica, e adentramos 2013 com um especial divido em duas partes a respeito da obra A Revolução dos Bichos, de George Orwell. Como vocês podem ter reparado este especial possui um propósito diferente, que não é apenas prender-se no livro, mas sim também compara-lo com outra genialidade, mas desta vez musical: Animals, álbum da banda inglesa Pink Floyd. E após a excelente resenha de ontem de nossa amiga Amanda, sou eu, Junior, quem tomarei as rédeas dessa segunda parte de nosso especial.
Admito pra vocês que não sei como começo por aqui. Não é tão fácil assim falar de Pink Floyd. É algo deveras complexo pra expor de forma sucinta uma banda que possui uma história relativa ao tamanho de sua música Echoes.
Em 1977, o Pink Floyd lançou um álbum conceitual chamado Animals, no qual pauta-se em uma crítica severa no sentido político-social. Álbum este que foi totalmente baseado no livro A Revolução dos Bichos, mas que não se prende apenas a isto. O Pink Floyd utiliza de recursos do livro para abrirem suas próprias vertentes. Um pouco diferente do livro, que é uma crítica ao stalianismo, Animals trata-se de uma crítica ao capitalismo, principalmente a indústria musical.
O álbum possui 5 músicas é dividido em três grupos animalescos (cada um representando uma música): Dogs (cachorros), Sheeps (ovelhas) e Pigs (porcos). As outras duas músicas do álbum, que são Pigs On The Wing (Part One) e Pigs On The Wing (Part Two) são mais como uma casca do álbum, como se fossem uma abertura deste (Part 1) e um encerramento (Part 2). Estas duas músicas pouco tem a ver com o conceito em si do disco, tratam-se de duas letras que Roger Waters (baixista da banda) compôs para a sua namorada da época. Então vou analisar mais as três músicas principais, individualmente, que são as que se traçam um paralelo com o livro. No final, deixarei um trecho traduzido de cada música.
1. A começar pela faixa Dogs (cachorros, do inglês):
No livro de Orwell os cachorros são mostrados como os homens da lei, seja a polícia ou exército. Aqueles que protegem de qualquer forma os porcos, mas também desejam ser como eles. Os cachorros são moldados pelos porcos para agirem de acordo com a vontade destes. Pode-se dizer também que os cachorros representam aquela parcela corrupta pela qual o sistema cria. A parcela gananciosa, que não possui todo o poder, mas sempre está próximo ao sistema, e segue ao seu acordo.
Nesta faixa do Pink Floyd, o conceito de cachorros não se diverge muito do livro. Na música, os cachorros (Dogs) são mostramos como aqueles que procuram tornarem-se porcos, fazem qualquer coisa para poder subir na hierarquia. Usam de seu poder para a ganância, de forma quase maquiavélica, a fim de obterem o que querem através da submissão dos outros. O mais curioso é que no final desta faixa, são mostrados os cachorros condenando-se moralmente. Como se no fim percebessem todos os seus atos, e sentissem o extremo arrependimento e remorso por quem foram durante a vida.
“E passado algum tempo você pode trabalhar em pontos por estiloComo a gravata e um firme aperto de mãoUm certo olhar nos olhos e um sorriso fácilVocê tem que passar confiança para as pessoas que você mentePara que quando elas virarem as costasVocê tenha a chance de enfiar a faca”
2. Segue a análise da próxima faixa do disco, que é a Pigs (porcos, do inglês):
Na obra de George Orwell, porcos são aqueles que através de sua capacidade, tiram proveito de todo o resto da população. Colocam-se no topo da hierarquia, e usando a desculpa de que, apesar de os animais viverem em uma sociedade igualitária, eles precisam de um líder, os porcos trazem para eles todas as regalias possíveis.
Nesta música do disco, a banda traça os porcos (Pigs) como o próprio sistema. Aqueles que detêm o poder, a política escrófula e sádica em si. Assim como no livro de Orwell, os porcos são mostrados como aqueles que utilizam meios manipuladores, enquanto fingem para a população que absolutamente nada está acontecendo, e que a vida está muito melhor do que jamais fora. Aqueles que mudam o próprio sistema que eles criaram, a fim de sempre tomarem a melhor vantagem possível.
Uma coisa extremamente genial na música é que a banda faz críticas diretas a Mary Whitehouse, uma velha militante e conversadora inglesa que propagava discursos contra a banda. Ei, você, Whitehouse, que charada você é. Haha.
“Grande homem, homem porco, que charada você éUma próspera roda gigante, que charada você éE quando sua mão está sobre o seu coração,Você é quase uma risada,Perto de ser um piadista”
Por fim, vamos ao último bloco do disco, a música Sheeps (ovelhas, do inglês):
Em seu livro, Orwell retrata as ovelhas (e os demais animais) como a população em si. Mas as ovelhas recebem um “quê” a mais porque mostram-se como as mais submissas e alienadas possíveis. As ovelhas representam aquela população que simplesmente segue cegamente o líder, repetindo absolutamente tudo o que este manda as dizer, sem ao menos contestar nada, ou parar para pensar sobre o que tudo aquilo significa.
Na música do Pink Floyd, as ovelhas (Sheeps) são retratadas da mesma maneira. São a classe que está por aí, vivendo com medo dos cães, seguindo o seu líder, e completamente alienados pelo seu sistema. Há também uma crítica à igreja nesta música, pela forma como um ser pode se submeter a algum dogma, sem questioná-lo. No final da música, é dito que os “cães estão mortos”, como se os próprios porcos tivessem acabados com aqueles que os ameaçavam.
“O que você ganha fingindo que o perigo não é real?Submissos e obedientes vocês seguem o líderDescendo pelo trauteados corredores, em direção ao vale da morteMas que surpresa!Um olhar terminal choca seus olhosAgora as coisas são o que realmente parecem ser.Não, isto não é um pesadelo.”
E desta forma, encerra-se um dos álbuns mais geniais lançados no século XX, baseado na bela obra de Orwell.
Ouçam o álbum.
Indicação do Luiz A. Jr.
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