sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O Menino do Pijama Listrado – John Boyne


Ao ler “O Menino do Pijama Listrado” é praticamente impossível não ficar com um nó na garganta. É um desses livros que te prende da primeira a última página, e para os mais sensíveis poderá até arrancar algumas lágrimas no final.
A narração começa com uma mudança para o personagem principal, Bruno, um molequinho de 8 anos que mora com os pais em Berlim na
Alemanha. Essa é uma das poucas informações que recebemos na leitura, sabemos que o menino está de mudança - e só podemos especular os motivos. A curiosidade é atiçada e vamos avançando pelas páginas para entender o que está acontecendo.

Tudo é narrado em 3ª pessoa pelo ponto de vista do menino, o que traz um ar infanto-juvenil à obra, mas engana-se quem enxergar o livro somente por esse aspecto; existe uma história muito triste cuja essência é fundamental conhecer para todo homem do século 21 por trás de tudo que acontece no livro e infelizmente se faz necessário contar histórias assim.

O pai de Bruno, que é um capitão da SS, é obrigado pelo governo a se transferir com a família, de Berlim para o interior da Alemanha, e mais a frente entendemos que não se trata de “qualquer” Alemanha e sim se trata da Alemanha nazista no auge do III Reich. Conforme mencionei, tudo nos é contado pelo ponto de vista por vezes ingênuo daquele garoto, o que faz com que aquele nó da garganta ao qual eu me referi se faça presente por diversas passagens do livro.

Quando chega na nova casa, Bruno não gosta nem um pouco do lugar. Ele ainda precisa conviver o tempo todo com a irmã Gretel, que tanto detesta: nas palavras de Bruno “um caso perdido”. Sem nada para fazer, o menino decide sair para fazer explorações e eis que chega muito perto de uma altíssima cerca de arame farpado. Aos poucos, cada detalhe vai sendo jogado, como um grande quebra-cabeça; nada é dado de bandeja ao leitor, e isso transforma a leitura em algo extremamente necessário. Arrisco dizer que é impossível começar “O Menino do Pijama Listrado” e não chegar ao seu final, ou tentar interromper a leitura e voltar dias depois.
Nessa cerca, Bruno faz o seu primeiro amigo na nova casa, o menino Shmuel; nesse ponto o leitor já se deu conta de que Bruno e sua família se mudaram para as proximidades de um campo de concentração, tal como os vários que funcionaram durante o governo de Hitler. Também já se deu conta de que o pai de Bruno é o comandante do campo, recrutado pelo “Fúria” para chefiar o local. Inclusive há uma passagem no livro, em que o autor nos conta sobre a visita que o “Fúria” fez a família em Berlim. Fúria é claro, trata-se da visão infantil de Bruno para “Fuhrer”, nomeação que Adolf Hitler usou para se designar líder da Alemanha nazista.

Shmuel e Bruno tornam-se grandes amigos, ainda mais quando descobrem que, além de terem a mesma idade também nasceram no mesmo dia. E então, Bruno passa a ir visitar o seu novo amigo todos os dias, levando-lhe comida, conversa e jogos. O Menino do Pijama Listrado trata-se de Shmuel, que utiliza na verdade o uniforme que os nazistas davam aos judeus dos campos de concentração: um uniforme branco com listras azuis - parecido com um pijama no olhar infantil de Bruno. O garoto pergunta por que o amigo utiliza somente aquele mesmo pijama e é quando Shmuel conta sua história, de como seus pais e ele vieram parar naquele lugar. Tudo do ponto de vista de uma criança de 8 anos, o que faz aquela confissão nos despertar todos os tipos de sentimentos, dos mais tristes aos mais indignados.

É muito emocionante cada conversa que Bruno tem com Shmuel, assim como a amizade que ambos constróem ao longo da narrativa. É interessante a maneira como o autor trabalha a dualidade dos dois,a vida confortável e cheia de mimos de Bruno em contraponto com a vida difícil que Shmuel vem levando; é tocante a discussão trazida pelo livro de como um olhar infantil vê o mundo ao seu redor. Apresentar todos os horrores do nazismo pelos olhos de duas crianças nos faz ficar mal a cada nova linha apresentada.

Mas é aí que está a importância de uma obra literária como “O Menino do Pijama Listrado”, de lembrar ao mundo tudo aquilo que aconteceu, de nos deixar tensos, de nos colocar um nó na garganta. Na esperança maior de que algo assim, algo como o que o livro nos retrata não venha a se repetir. O livro nos fisga desde o seu início, primeiro pela curiosidade, depois pela necessidade que todos nós temos de nos emocionar.

O mesmo acontece com a versão cinematográfica que o filme recebeu. O filme dirigido por Mark Herman, não consegue a mesma profundidade infantil do livro e nem mesmo o ocultar todas as informações atiçando nossa curiosidade, no entanto é um filme dotado de emoção, e ao ver aquele drama todo retratado na tela, ganhando vida, não há como não se emocionar. Minha indicação é que você leia o livro primeiro, depois, prepare uma caixa de lenços e veja o filme, que por sinal é muito bem dirigido e interpretado.


“- E sinto muito que não tenhamos podido brincar, mas, quando você for a Berlim, é só o que faremos, e eu o apresentarei a... Puxa, como era mesmo que eles se chamavam?.Bruno se perguntou, frustrado, pois eles deveriam ser os seus três melhores amigos para toda a vida, mas tinham desaparecido de sua memória àquela altura. Ele não se lembrava de seus nomes nem de seus rostos. - Pensando bem - ele disse, olhando para Shmuel - Não importa se eu lembro ou não. Eles não são mais meus melhores amigos mesmo. Ele olhou para baixo e fez algo bastante incomum para a sua personalidade: tomou a pequena mão de Shmuel e apertou-a com força entre as suas. - Você é o meu melhor amigo, Shmuel - disse ele - Meu melhor amigo para a vida toda”.

Indicação do Aion.

[nos perderemos entre monstros, da nossa própria criação]

"Todos nós desejamos ajudar uns aos outros.
Os seres humanos são assim.
Desejamos viver para a felicidade do próximo -
não para o seu infortúnio.
Por que havemos de odiar ou desprezar uns aos outros?
Neste mundo há espaço para todos."
Chaplin no filme "O Grande Ditador.

Amanda, te vejo na segunda!

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