sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O Clube do Filme – David Gilmour.



“Um pai. Um filho. Três filmes por semana.”

Canadá. David Gilmour está tendo terríveis problemas com seu filho Jesse; o rapaz tem 17 anos, odeia a escola, tira notas horríveis e está cada dia pior em sua situação. David é um apresentador de talkshows e crítico de cinema que está passando por grandes dificuldades financeiras. Diante de toda sua situação, decide tomar uma atitude drástica: o rapaz pode deixar a escola, não precisará trabalhar, poderá dormir até tarde, e também não precisará pagar aluguel – desde que assista com o pai 3 filmes por semana, e é através destes filmes que o menino será educado. Os dois assim acabam criando O Clube do Filme.
Gilmour de fato existe; é um jornalista canadense super simpático, Jesse também existe de fato e é o motivador desta história toda. O amor que David tem por seu filho é mostrado muito bem nessa biografia de uma parte de sua vida, quando ele se viu obrigado a criar o Clube do Filme.

O Clube do Filme é um desses livros, que a gente começa a ler com o pé atrás, achando que pode se tratar de mais um daqueles bobos livros de auto ajuda, ou então, alguma autobiografia cuja única função é enriquecer seu autor. Felizmente, este livro não atende a nenhum desses requisitos; alias, é um livro delicioso.
David nos conta de como através de uma idéia, um tanto quanto arriscada, resolveu os problemas do filho que de certo modo poderia se dar muito mal na vida. É um dos testemunhos mais profundos sobre o amor de pai e filho que eu já tive a oportunidade de ler. Quando, pouco a pouco, David nos conta como funcionava o Clube do Filme, nos maravilhamos, e para os amantes da sétima arte o livro tem um gosto todo especial: David mostra ao filho clássicos como “Assim Caminha a Humanidade”, “Bebê de Rosemary”, “O Iluminado” de Stanley Kubrick, “O Poderoso Chefão”, “Uma Rua Chamada Pecado”, e em certo ponto do livro, os dois, passam a ver os chamados filmes “prazeres culpados”, aqueles filmes ruins, um lixo, que você sabe que são um lixo, mas você gosta mesmo assim. No livro Gilmour se refere ao filme “Uma Linda Mulher”, defendido por ele como um filme envolvente, apesar dos pesares. Em outro ponto, os dois vêem “O Exorcista” e depois têm dificuldades para dormir.

Pai e filho viam os filmes e através de discussões pertinentes a eles, David tentava dar uma boa educação ao jovem, até certo ponto, quase perdido. Há também as criticas cinematográficas que Gilmour coloca a cada filme que ele lembra ter visto com seu filho fazendo com que o livro fique a cada página mais interessante, inclusive porque trata de fatos que aconteceram realmente.

Adjacente ao “Clube do filme” propriamente dito, o livro traz os enlaces amorosos de Jesse, vistos pelos olhos cuidadosos de seu pai, ou então a busca de emprego de Gilmour; também a viagem de pai e filho (e a ex-mulher) a Cuba; enfim, todos os fatos da vida cotidiana de pai e filho, o que faz o leitor se aproximar ainda mais daquela história e perceber como é grande o companheirismo de ambos. Também nos sensibiliza quanto à coragem de Gilmour, ou então nos diverte com situações que o homem acaba se defrontando, como a falta de dinheiro por exemplo.

Em outra passagem, uma preocupação de Jesse que seu pai não vá ver uma apresentação sua de música num bar com seus amigos notamos evidentemente as relações de pai e filho sendo testadas. O companheirismo, a preocupação, o amor.
O Clube do filme é um testemunho muito bonito de tudo isso, não há como não se interessar por aquela história que é tão banal e tão comum, mas por ser real se aproxima muito das histórias que nós vivemos todos os dias, o que dá ao livro um charme ainda mais especial.

“Conversávamos sobre a década de 1960, sobre os Beatles (muitas vezes, mas ele era indulgente comigo), sobre beber mal, beber bem, e então, mais um pouco sobre Rebecca (-Você acha que ela vai me dar um pé na bunda?), Adolf Hitler, o campo de concentração de Dachau, Richard Nixon, infidelidade, Truman Capote, o deserto de Mojave, o empresário de música Suge Knight, lésbicas, cocaína, o visual heroin chic dos anos 90, os Backstreet Boys (idéia minha), tatuagens, Johnny Carson, o rapper Tupac (ideia dele), sarcasmo, levantamento de peso, tamanho do pênis, atores franceses, o poeta e.e. cummings. Que bons tempos! Eu podia estar esperando por um emprego, mas não estava esperando pela vida. Ela estava ali, bem ao meu lado, na cadeira de vime. Sabia que aquilo era maravilhoso enquanto estava acontecendo – mesmo que pressentisse, de alguma forma que a linha de chegada já nos aguardava, no final do caminho.Hoje em dia, quando vou à casa de Maggie jantar, faço uma pausa nostálgica na varanda. Sei que Jesse e eu passaremos por ali, para tomar uma xícara de café, mas não será igual à época do clube do filme. Curiosamente, o restante da casa – a cozinha, o quarto, a sala e o banheiro – não guarda traços da minha presença. Não sinto nenhuma vibração, nenhum eco de minha estada ali. Somente a varanda”.

Recomendadíssimo.


Indicação do Aion

[nos perderemos entre monstros, da nossa própria criação]

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