Oi você que tá na vibe dos livros mais mainstream, hoje eu tenho pra você um presentinho. Cansei de chafurdar por autores do submundo na minha estante e puxei o mui bem conhecido O Perfume – A História de um Assassino, já adaptado para o cinema e vendido em mais de sólidas 15 milhões de cópias.
Patrick Suskind tem uma habilidade narrativa como poucos. O plano dele é você amar o personagem mais detestável de todos os tempos? Você irá amá-lo. Ou que tal odiar o perfeito protagonista? Prepare-se para derrubar baldes de ódio. É essa habilidade sutil em moldar o leitor de acordo com a sua vontade que faz de Suskind um narrador único e cria uma história única.
O tempo é o séculos XVIII em Paris, aquela Paris idealizada até mesmo pelos livros de história, a charmosa, e bela e, e, e e e totalmente fedorenta Paris. Numa pesquisa histórica impecável, o autor faz questão de ressaltar o quão pouco desenvolvidos éramos como humanos e reporta todas as nojeiras da carne e do espírito que costumávamos fazer. Mercados abertos, não conservação de alimentos, pesca podre, necessidades fisiológicas e não canalizadas e por aí vai. É nesta Paris fedorenta que nasce Jean-Bapstiste Grenouille, um jovem dotado de uma capacidade de sentir odores de uma forma totalmente incomum e precisa.
O autor faz de tudo para enfatizar o quão esquisito é o bebê Jean, órfão no nascimento. Criado em diversos lugares e por todos aproveitado, ele passa a viver sua vida totalmente deformado por um tempo trabalhando nos curtumes, manco por um acidente, feio por natureza. É esse pequeno e distorcido rapaz que tem uma capacidade prodigiosa de criar perfumes inimagináveis. Aprendiz do maior perfumista de Paris, ele aprende técnicas e segredos até que algo se apresenta como o objetivo de sua vida: criar o melhor perfume de todos os tempos.
Após encontrar um cheiro que nunca havia sentido antes, o cheiro de uma jovem ruiva que ele persegue e mata apenas para saciar-se de seu odor, ele sai numa caçada implacável para descobrir o melhor método e ter as melhores vítimas para a criação de seu perfume impecável.
Apesar de ter uma narrativa longa em termos de descrição e detalhes, com poucos diálogos, o livro conquista absolutamente pela magia do tema e da sua narração, num reino que, como o autor faz questão de citar no início, que passa totalmente ignorado por nós mas que é de uma magia incomparável. E prepare-se para se sentir exatamente como Sukind queria que você se sentisse: encantado, perdido, controversamente apaixonado por um protagonista lamentável.
Uma curiosidade. Kurt Cobain, do Nirvana, considerava este seu livro favorito e compôs uma canção nele inspirada, a segunda faixa do álbum In Utero, cujo nome é Scentless Apprentice.
Segue o link da música: http://www.youtube.com/
Segue trecho:
“Ainda na mesma noite, inspecionou, primeiro desperto e depois em sonhos, o imenso campo de destroços das suas recordações. Examinou os milhões e mais milhões de tijolos de odores, colocando-os numa ordem sistemática: bom com bom, ruim com ruim, fino com fino, grosseiro com grosseiro, fedor com fedor, ambrosíaco com ambrosíaco. No decurso das semanas seguintes, essa ordem se tornou cada vez mais sutil, o catálogo dos odores cada vez mais rico e diferenciado, a hierarquia cada vez mais nítida. E em breve ele podia começar a montar os primeiros prédios de cheiros: casas, muros, escadas, torres, porões, quartos, câmaras secretas... uma forteleza interior, a se ampliar a cada dia, cada dia mais embelezada e mais perfeitamente estruturada, com as maravilhosas combinações de perfumes.
Que o início dessa maravilha tinha sido uma assassinato isso lhe era, se de algum modo consciente, totalmente indiferente. Já nem conseguia mais se lembrar da imagem da mocinha da Rue das Marais, do seu rosto, do seu corpo. Tinha preservado e se apropriado do melhor dela: o princípio do seu perfume.”
Indicação da Amanda.
[you see, but you don't observe]
Nenhum comentário:
Postar um comentário