segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A menina que roubava livros - Markus Zusak


"EIS UM PEQUENO FATOVocê vai morrer."

Confesso: ignorei A Menina que Roubava Livros durante muito tempo e deliberadamente. De algum modo, antes mesmo de ler a sinopse julguei o livro pela capa (ou pela popularidade e o público predominantemente feminino e adolescente) e não parei pra ler uma história contada pela Morte.

O que foi um grande erro. Independentemente da sua maturidade literária, há uma série de elementos que fazem de A Menina que Roubava Livros um livro comovente e dificilmente igualável. Markus Zusak resgata duas coisas de fundamental importância e facilmente esquecidas por nós, quais sejam: a importância das palavras e a capacidade dessas mesmas palavras de construirem algo extremamente simples, mas poderosamente belo.

O lugar é a Alemanha nazista. A protagonista, Liesel Meminger, a roubadora de livros. A narradora, numa brilhante sacada do autor, é a própria Morte, que deve ter mais histórias pra contar do que qualquer um de nós. Precisamente, é a Morte num tempo em que estava realmente cotada.

Liesel está vindo para morar com seus novos pais adotivos, o adorável papai Hans de olhos prateados e a detestável (só por enquanto) mamãe Rosa, e é exatamente aí que vai sofrer, com olhos de criança, toda as consequências de uma detestável guerra. Faz amizade com um lutador judeu, escondido em seu porão, Max, sente na barriga o resultado do racionamento e joga futebol com os meninos da rua – quando não tem que frequentar a juventude hitlerista. Não julgo nada importante que se conte o enredo, até porque ele é percebido e descoberto na sua intimidade com o livro.

Gostaria apenas de ressaltar o quão comovente pode ser esquecer todo o vocabulário empolado, a ciência e o estudo pra se falar de um assunto que é tão humano. A Menina que Roubava Livros consegue resgatar sobre como palavras simples podem tornar tão cru aquilo de que se fala, sobre como a simplicidade consegue descrever tão bem aquilo que estamos acostumados a compreender com páginas e mais páginas.

A mensagem do livro é fazer você esquecer de fatos, dados, complexidade histórica sobre o imenso conflito e resgatar sua humanidade. Resgatar os momentos de bela simplicidade que florescem no meio de um imenso tempo de sangue. Através da visão de uma criança, narrada pela Morte, é possível embarcar tão profundamente que é impossível não se emocionar.

O autor constrói, por meio da Morte, um texto leve e de elementos dificilmente tão bem compilados, que deixa a leitura gostosa e fresca como um punhado de neve – posto que tão gelado que seu coração só irá descongelar depois de uma semana ou duas.

E nunca, nunca deixe de ler um livro narrado pela Morte.

"Um começo.Onde estão meus bons modos?Eu poderia me apresentar apropriadamente, mas, na verdade, isso não é necessário. Você me conhecerá o suficiente e bem depressa, dependendo de uma gama diversificada de variáveis. Basta dizer que, em algum ponto do tempo, eu me erguerei sobre você, com toda a cordialidade possível. Sua alma estará em meus braços. Haverá uma cor pousada em meu ombro. E levarei você embora gentilmente.Nesse momento, você estará deitado(a). (Raras vezes encontro pessoas de pé.) Estará solidificado(a) em seu corpo. Talvez haja uma descoberta; um grito pingará pelo ar. O único som que ouvirei depois disso será minha própria respiração, além do som do cheiro de meus passos.A pergunta é: qual será a cor de tudo nesse momento em que eu chegar para buscar você? Que dirá o céu?Pessoalmente, gosto do céu cor de chocolate. Chocolate escuro, bem escuro. As pessoas dizem que ele condiz comigo. Mas procuro gostar de todas as cores que vejo — o espectro inteiro. Um bilhão de sabores, mais ou menos, nenhum deles exatamente igual, e um céu para chupar devagarinho. Tira a contundência da tensão. Ajuda-me a relaxar."

Seeya todos vocês.
Indicação da Amanda.
[you see, but you don't, you never observe]

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