segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A invenção de Hugo Cabret - Brian Selznick


Prepare-se para pegar um croissant e um copo de leite fresquinho e mergulhar nas passagens secretas da Estação Central de Paris nos meados de 30 junto com Hugo Cabret, um órfão que vive escondido cuidando da manutenção dos belos e complexos relógios do lugar.

Livro fantástico. A apresentação por si só merece um prêmio. Em folhas negras, cuja história é contada em mais da metade por desenhos à lápis feitos à mão pelo autor, com exatamente a mesmíssima edição do original, desde os detalhes da capa até uma tradução impecável, no Brasil pela desconhecida Edições SM . Caro, diga-se de passagem. Mas uma aquisição de que não me arrependo.

Esqueça o filme, aliás. Embora a adaptação tenha sido muito bem feita e capte muito da magia e doçura do livro, a viagem daqui do Brasil até Paris é conduzida pelo autor Brian Selznick como um vôo suave – eu diria quase alucinógeno, esperando apenas o momento em que você vai virar-se para o lado e topar com os bistrôs por aí, heim – e sem grandes tropeços. Uma leitura rápida, devido a grande quantidade de imagens, mas eu duvido que você não fique alguns minutos tentando absorver todos os riscos e sombras e tentando dar vida a eles – não que isso seja especialmente difícil.

Mas vamos lá. Hugo Cabret é o órfão filho de um relojoeiro que aprendeu os segredos da profissão e arte ainda muito jovem. Após o acidente que resulta na morte do pai, ele vai viver com o bêbado tio que é cronometrista dos relógios da Estação Central de Paris. Lá, ele aprende com o tio como cuidar da delicada maquinaria e continua fazendo isso mesmo após o desaparecimento do cronometrista, enganado até mesmo o severo inspetor da Estação.

Mas Hugo Cabret, como em toda grande história de mistério, tem um grande segredo. Ele guarda um autômato, um pequeno homem mecânico quebrado, que o pai encontrara no porão do museu onde trabalhava e que estava tentando consertar, deixando o trabalho inacabado com sua morte.

Hugo deseja terminá-lo, acreditando que ele guarda uma mensagem de seu pai, e para isso, passa a roubar pecinhas mecânicas dos brinquedos da loja de brinquedos da Estação, que pertence a um velho rabugento. Um dia, ao tentar roubar mais um brinquedo, é pego pelo dono da loja e é aí que a vida de Hugo muda para sempre.

Não vale a pena dar detalhes do enredo, que é uma das grandes realizações de Selznick ao escrever a obra. Mas vale falar de sua habilidade de envolver esse enredo em um mundo de magia, que vai do cinema a beleza intrincada das engenhocas mecânicas. Uma reconstrução da Paris (ilusória, eu sei, mas entre na brincadeira) dos anos 30, com seu charme e sua torre, com seu cheiro de croissant e com as senhoras de chapéu e saltos que fazem toc-toc-toc.

Uma viagem imperdível. E apertem os cintos, que o trem já vai partir.

“Uma cascata de movimentos perfeitos, com centenas de ações brilhantemente calculadas, se derramou através do homem mecânico. A chave apertou uma corda conectada a uma série de engrenagens que se prolongava até a base do tronco. Ali, a última roda dentada fez girar uma série de discos de latão com bordas bem afiadas. Dois pequenos dispositivos em forma de martelo baixaram e correram pela borda dos discos chanfrados, subindo e descendo enquanto os discos rodavam com regularidade. Os movimentos ativados pelos martelinhos foram então transferidos de volta através de uma série de varetas que se estendia até o torso do homem mecânico. Ali, as varetas moventes silenciosamente fizeram girar outros mecanismos no ombro e no pescoço. O ombro ativou o cotovelo e, quando este se pôs em marcha, provocou outros movimentos numa reação em cadeia até o pulso e enfim, até a mão. Hugo e Isabelle observavam, com os olhos arregalados de espanto, enquanto a pequena mão cuidadosamente começou a se mexer.. 
Isabelle e Hugo prenderam a respiração. O homem mecânico molhou a pena na tinta e começou a escrever.”

Seeya todos vocês.

Indicação da Amanda, que sim, escreve demais.

[you see, but you don't observe]

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