sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Maíra - Darcy Ribeiro


Darcy Ribeiro foi um grande antropólogo que escreveu variados livros nessa área de antropologia social, além de cinco romances (essa coisa comprida e deliciosa de ler, que a gente vem indicando nessa página desde o seu início). Dentre eles está Maíra, o qual o próprio autor se refere como o seu favorito. Como não li os demais romances do autor, não posso dizer que partilho da mesma opinião, mas devo dizer que Maíra é um livro delicioso.

O romance é a união de três histórias que se complementam; Darcy Ribeiro é muito feliz na construção dessa história, que vai e vem e não segue uma ordem cronológica. Para marcar bem as mudanças de qual parte da história o autor está falando, Darcy muda a linguagem, primeiro começa em 3º Pessoa, depois vai para a 1ª e assim por diante. De início somos apresentados a uma morta, que estava grávida de dois gêmeos. Depois, a morte de Anaçã, o chefe da tribo dos Mairuns, e por fim conhecemos Isaías, um pseudopadre que está em dúvida sobre sua vocação e precisa lidar com fato de ser um Mairum e de ser o escolhido para assumir o lugar deixado por Anacã.


Darcy constrói uma narrativa que aos poucos seduz o leitor. A morta do primeiro capitulo, na verdade se trata de Alma, que é apresentada nos capítulos seguintes e vem com Isaías até a tribo dos mairuns.
Há toda uma discussão sobre a vida, sobre quem de fato somos por todo o livro; os capítulos dedicados a vida na aldeia também são dotados de veracidade, talvez porque Darcy imprime seu conhecimento de antropologia a eles - por ora nos choca com a maneira como os índios se comportam, por ora nos faz refletir sobre o quanto eles são diferentes de nós e também como são parecidos conosco. É uma história sobre um pseudopadre, que está em dúvida sobre sua vida, sobre o que vai fazer com ela, sobre a fuga de seu destino, o questionamento de sua fé, o conflito interno por ter abandonado seu povo, por vezes discussões muito próximas da nossa realidade. Recomendadíssimo.

“Isaías dá outro pouco de atenção a ela e volta a olhar a terra lá embaixo; triste, pensativo. Alma matuta: morrer não é o pior. O pior mesmo é essa ânsia de esperar a morte. Pior ainda é esse gosto de fel na boca e essa azia no estômago. Podia morrer logo, arrebentar de uma vez. Eu, esse avião e o mundo.”

Amanda, te vejo na segunda.

Indicação do Aion.

[nos perderemos entre monstros, da nossa própria criação]

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