História interessante, a minha com esse livro. Eu o surrupiei numa bela tarde depois do almoço na casa do meu avô, na paradisíaca biblioteca do seu apartamento; embora eu compartilhe aquele espaço com meu avô, puxar o livro da estante sem avisá-lo não é algo que me é muito particular. No entanto, eu o fiz e enfiei na mochila o melhor testemunho de vida e arte que já tive o prazer de conhecer.Minha Vida é a autobiografia de Charlie Chaplin, para o qual eu realmente não dava muita importância antes de lê-lo. Digo “lê-lo” na pretensão de ter lido Chaplin através de Minha Vida, tão contundente é sua biografia. Não é um livro grande (certamente menor que Harry Potter e a Ordem da Fênix, por exemplo) e é de fácil e viciante leitura, livro que, aliás, eu recomendo a você que gostaria de se aventurar no gênero biográfico.
Sir Charles Spencer Chaplin, pra você que não o conhece, é bem mais que o ícone cult que talvez você possa ter aí na sua camiseta ou na sua agenda. Chaplin foi um ator, diretor, comediante e dançarino que acordou uma bela manhã e se tornou um dos pais do cinema, ícone do cinema mudo e da comédia pastelão. A extensão e influência de sua obra cinematográfica são vistas até hoje e Chaplin é aclamado como um ícone humano da história registrada da humanidade. Imortalizado na figura do The Tramp, Carlitos ou O Vagabundo com a bengala inquieta, o bigode à escovinha e o fraque puído, Charles nasceu em Londres em 1988, filho de pais que já trabalhavam no teatro. Enfrentou na infância a miséria e o consequente enlouquecimento de sua mãe para depois apenas se tornar um dos homens mais ricos da América num mundo devastado pela crise de 1929.
O livro cobre sua vida do início até o sossegado (e parcialmente) auto-imposto exílio na Suíça, período em que sua saúde já declinava. Eu mesma, que não me interessava completamente pela obra cinematográfica de Chaplin, ao ler o livro e conhecer como funcionou a criação e vida artística de Charlie Chaplin tive um surto cinematográfico dos mais gostosos e saí na caça de sua filmografia completa (orgulhosos 81 filmes e 35gb, faltando apenas alguns filmes que se perderam). O gênio é apaixonante, a obra incrível e o livro, o livro é um relato e um abraço de um dos grandes gênios da comédia feito de suas perfeições e imperfeições, feito de alegria e de depressão na mesma moeda.
Não cabe contar aqui a história do livro – a história de Chaplin – mas cabe frisar entusiasticamente quão facilmente Chaplin é capaz de ganhar a qualquer pessoa de qualquer idade, num simples calhamaço de folhas e filmes em preto e branco.
Segue um trecho em que Chaplin fala da produção de O Garoto, um de seus filmes mais notórios e emocionantes estrelado com o então garoto Jackie Coogan:
“Havia uma cena em que eu queria que Jackie chorasse, quando dois funcionários da Assistência aos Menores o vinham arrancar da minha companhia. Eu lhe contei toda a sorte de histórias comoventes, mas Jackie continuava alegre e cheio de picardia. Depois de uma horade tentativas baldadas, seu pai me disse:- Eu o farei chorar.- Não vá me assustar o menino, nem bater nele – observei, com sentimento de culpa.- Oh, não, não – disse o pai.Jackie estava com o espírito tão jovial que eu não tive coragem de acompanhar a intervenção de seu pai e, por isso, fui para o meu camarim. Alguns momentos depois ouvi o choro e os gritos de Jackie.- Ele está pronto – disse o pai.Era a cena em que eu tomava o menino dos funcionários da Assistência aos Menores e, enquanto ele chorava, eu o abraçava e beijava. Quando a cena terminou, perguntei ao pai:- Como você o fez chorar?- Apenas dizendo que, se ele não chorasse, os funcionários o levariam, de verdade, para o Asilo de Menores…Voltei-me para Jackie, tomei-o nos meus braços e consolei-o. Suas bochechas ainda estavam banhadas de lágrimas.- Eles não vão levar você – disse-lhe eu.”
Minha Vida ganhou uma adaptação para o cinema em 1992 chamada criativamente de “Chaplin”, em que Robert Downey Jr. vive Chaplin de maneira brilhante e comovente – aliás, um filme que eu particularmente adoro por trazer a magia dos bastidores de Chaplin para o colorido e para a vida nas telas e é por isso que nós dedicamos esse post ao pessoal do Cinedicas, que sempre tem as melhores indicações de filmes! (http://www.facebook.com/cinemadicas)
See ya!
Indicação da Amanda
“Pienso que vivir es un derecho y no una obligación.”
Cartas do inferno (do original em espanhol “Cartas desde el infierno”) é um desses livros que te fazem pensar a cada página virada. Por vezes, não é uma leitura agradável porque toca em temas que muitos de nós preferimos não tocar. Cartas do Inferno, como o titulo sugere, é uma sucessão de cartas que o autor, o espanhol Ramón Sampedro foi trocando ao longo de sua vida, mas precisamente depois que sofreu um acidente que o tornou tetraplégico.
Ramón era marinheiro; um dia acabou caindo de uma rocha, num lago não muito fundo, fraturando o pescoço e ficou tetraplégico, condição essa que se estendeu de 1968 data do acidente, até 1998 quando Ramón morreu.
Cartas do Inferno não é uma biografia sobre um homem com desejo de viver ou um homem que supere as condições em que se encontra, muito pelo contrário, todas as cartas presentes no livro são na verdade o pedido suplicante de um homem que não aceita a sua própria condição de vida e pede a morte. Rámon se considera nas primeiras linhas do livro como “uma cabeça viva em um corpo morto”. Só essa frase já nos faz pensar em uma série de coisas.
Ramón, quando vivo, pediu ao estado espanhol que lhe deferisse um pedido: a sua própria morte, que alguém lhe desse veneno ou algo parecido, uma vez que ele próprio não tinha condições físicas para isso. O pedido foi negado e Ramón lutou contra a justiça, a igreja e o estado espanhol durante toda a sua vida. Abertamente ateu, o que fica claro por várias das cartas presentes no livro, Ramón defendia o direito de poder cessar com a vida, sua vida, a vida que ele não considerava digna.
Ao longo do livro, várias cartas que Ramón dirigia a opositores, amigos, jornalistas, nos são mostradas. O autor tem grande habilidade no uso das palavras, convencendo-nos sempre de que só quer que o seu pedido seja reconhecido, só quer que a sua vontade seja feita. Ele fala da morte e da vida com naturalidade, da vida como o fim de um ciclo, como não tem medo nenhum de morrer, como já se considera como um morto. Ramón não tem medo do que fala, não tem papas na língua, quer defender suas opiniões a todo custo e de qualquer forma. É um testemunho que por vezes nos faz pensar, por vezes nos faz discordar dos pontos de vista dele ou então nos faz concordar, em suma, atira-nos em situações ambíguas nas quais nunca nos preocupamos.
O ponto de vista às vezes autoritário ou mesmo exagerado, não muda a personalidade de Ramón, que no livro passa a sensação de que era um homem doce, divertido, terno, que teve a infelicidade de que algo tão ruim acontecesse com ele. Além das cartas, o livro também as intercala com alguns poemas e alguns contos, de novo sobre o mesmo tema, a oposição sobre vida e morte, falam sobre o amor, sobre o outro, sobre a busca de si mesmo.
O diretor de cinema Alejandro Amenábar, tocado pelo livro, decidiu fazer um filme sobre Ramón Sampedro, que se intitula Mar Adentro; nome que leva uma das poesias mais célebres de Sampedro. Ramón ganhou vida na tela magistralmente interpretado pelo ator Javier Bardem. O filme foca em uma biografia de Ramón, coisa que não acontece no livro, o livro funciona mais como uma forma que Ramón encontrara para dizer ao mundo suas opiniões e justificar ao estado que o que ele estava pedindo era de fato digno de atenção.
Ramón morreu em 13 de Janeiro de 1998, depois de trinta anos vivendo num inferno, do qual ele queria tanto se libertar. As Cartas que ele enviou daquele inferno são um testemunho, por vezes difícil de ler, mas sempre necessário, para se refletir sobre o que de fato fazemos aos seres humanos e até que ponto a religião consegue interferir num governo, e na vida de um homem.
Segue o trecho de um dos poemas do livro:
“A renúncia.sempre presente como um tormento,como um feitiço, pela palavra que pronunciou como o inseto que voa enlouquecido com uma idéia pelo infinito de uma obsessão.
Uma palavra, talvez perdida, sem importância,uma comparação inexata talvez,não quero saber se é premeditada, com perfídia,seja falsa ou verdadeira, me faz estremecer.
Um sensível lamento do lugar profanado onde esteve minha chama a ponto de se acender de novo com a magia de uma palavra afetuosa, de um nome saudoso,porém há chamas que mais vale não deixar renascer.
Viver é somente uma eterna renúncia e há renúncias que são impossíveis de poder explicar por exemplo, mãos amigas que doam ternura;como lhes dizer: “não quero a ternura, porque me faz sangrar”.
Indicação do Aion
[nos perderemos entre monstros, da nossa própria criação]
Aproximadamente quarenta e cinco minutos depois que eu havia me acomodado na cama para ler, eu terminei a última linha e fechei Festa no Covil. Alguma coisa também ficou fechada na minha garganta por um tempo. Juan Pablo Villalobos estréia no romance com o pequeno Festa no Covil e suas humildes 82 páginas. Não pense você que elas são rasas, incompletas, insuficientes ou qualquer outra coisa nesse sentido; na verdade, você leva 82 bofetadas seguidas e ainda algumas a mais nos momentos posteriores de reflexão.
Festa no Covil é narrado em primeira pessoa pelo pequeno Tochtli, príncipe herdeiro do rei do narcotráfico no México. A primeira e imediata sensação é a de estar ouvindo a história da boca de uma criança, algo que Villalobos trabalha perfeitamente ao extremo do extremo. Não há deslizes nisso, não há vozes adultas narrando a história. Pois bem. Tochtli mora em uma fortaleza no meio do nada, com o rei, Yolcault (que, aliás, o garoto está proibido de chamar de pai). O rei pode tudo e lhe dá tudo, mas nem os chapéus, nem as histórias e nem os filmes podem disfarçar a profunda solidão em Tochtli vive naquela fortaleza trancada.
O menino cresce em um ambiente totalmente ambíguo. Por um lado, Yolcault não quer que o filho veja violência em alguns filmes e tem escrúpulos com as notícias do jornal, mas por outro, joga com ele o jogo de ‘quantas balas são necessárias para alguém virar cadáver’ e o ensina a ser macho e não perdoar os ”maricas traidores”. Tochtli tem noção de que orifícios são a maneira mais eficiente de matar pessoas, mas é inocente ao ponto de achar que um chapéu de detetive lhe dá poderes de descobrir o que há nos quartos “vazios e trancados”. Nós somos assaltados pela violência diária do cotidiano do garoto, bem como pelo tesouro de sua infância – uma construção que Villalobos narra sensacionalmente, uma construção “sinistra e doce como uma caveira de açúcar”.
Segue um trecho maior que de costume, mas acho que as palavras de Tochtli são as mais apropriadas pra falar dele próprio:
“Martin Luther King Taylor foi até as jaulas armado com seu rifle. Foi primeiro até a jaula da direita e colocou a arma no coração de Luís XVI. O barulho do tiro ficou ecoando nas paredes do depósito com os gemidos horríveis do hipopótamo anão da Libéria. Mas quem chorava era Maria Antonieta da Áustria, que tinha se assustado com o barulho. Luís XVI já estava morto. Minhas pernas ficaram bambas. Esperamos até Maria Antonieta parar de gemer e Martin Luther King Taylor fez o mesmo com ela. Só que ela não morreu com um tiro só. Ela não parava quieta e os tiros não acertavam o coração. Ela só parou com o quarto tiro. Aí parece que deixei de ser macho e comecei a chorar feito um maricas. Também fiz xixi nas calças. Eu gritava tanto como se fosse um hipopótamo anão da Libéria querendo que quem me escutasse preferisse morrer pra não ter que me escutar. Eu tinha vontade de levar oito tiros na próstata pra virar cadáver. Também queria que todo o mundo fosse à extinção. Franklin Goméz veio me abraçar, mas Winston López gritou pra ele me deixar em paz.Quando me acalmei, senti uma coisa muito estranha no peito. Era quente e não doía, mas me fazia pensar que eu era a pessoa mais patética do universo.”
Indicação da Amanda.
“Tenho apenas duas mãos, e o sentimento do mundo.”
As pessoas às vezes me perguntam qual é o meu autor favorito. Acho uma pergunta um pouco difícil de responder porque eu ainda não consegui ler nem a metade das coisas que eu gostaria e sei que infelizmente não conseguirei. Então arrisco responder com o nome de alguns autores que tem o meu apreço,aqueles que eu gosto mais, e é claro que um deles é o mestre Carlos Drummond de Andrade.
Lembrando que esta é uma página de indicações de livros, vou indicar a todos um dos melhores livros do Drummond, um dos maiores poetas que o mundo já conheceu, o volume “Sentimento do mundo”, que é uma coletânea de poemas publicada pela primeira vez em 1940 na qual constam diversos poemas de Drummond e podemos perceber o quão maravilhoso ele é, assim como a sua poesia.
Drummond, da terceira geração da poesia modernista, é sem dúvida nenhuma um dos maiores poetas brasileiros, inclusive essa minha afirmação só revela que ele é um dos meus escritores favoritos. Ele tem uma poesia melancólica - que fala sobre o amor por algumas vezes com algum tipo de gracejo que acaba arrancando algumas gargalhadas, por outras triste, dessas que nos deixam a refletir após terminar sua leitura e com alguma crítica social, tendo a ver com o momento que Drummond os escreveu, no contexto da segunda guerra mundial.
Quando se imagina o contexto histórico em que o livro foi publicado e quando os poemas foram escritos, o livro ganha um sabor a mais, enquanto pipocavam os ecos do fascismo e do nazismo, a guerra civil espanhola, a Segunda Guerra Mundial, o governo de Getúlio Vargas, Drummond se angústia com tudo aquilo e de alguma forma isso se reflete em sua poesia. Daí, as poesias de critica social que também aparecem no livro.
“Sentimento do mundo” é uma prova viva disso, tem tudo que Drummond tanto deixa transparecer em sua poesia, tem todos os elementos que o tornam ele tão grandioso; há uma sinceridade muito grande em tudo que ele expressa.
Há um jogo de emoção muito forte, um poeta que joga no papel tudo aquilo que nós também pensamos mas que não temos coragem de dizer. Há amor, desilusões amorosas; existe também um trabalho maior com a dor e como tentar traduzi-la em palavras.
Existem poemas que nos deixam pensando é impossível ficar indiferente ao ler “Sentimento do mundo”, arrisco dizer que é impossível não despertar um amor a Drummond quando folheamos suas páginas, quando deparamos com sua linguagem, com as coisas que ele fala, com a melancolia, por vezes quando nos deparamos com coisas simples, que acontecem conosco, mas que Drummond coloca no papel de forma tão graciosa, tão boa, tão bem feita.
É inclusive nesse livro, que um dos mais famosos poemas de Drummond aparece: “Quadrilha” que eu faço questão de transcrever na integra aqui:
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história
Ao ler quadrilha não consigo imaginar uma só pessoa que não consiga enxergar um pouco de genialidade nesse poema, que mistura tantas coisas de Drummond, é simplesmente fantástico.
Bem, recomendo sempre e sempre, não só esse livro, mas qualquer poema de Carlos Drummond de Andrade. Para quem não conhece Drummond, talvez seja interessante começar com “Sentimento do mundo”. Para quem já conhece, Sentimento é uma grande coletânea e vale muito a pena ler e reler. Há sempre algo novo a ser encontrado, há sempre alguma coisa que passou despercebida da primeira vez que se leu.
Recomendadíssimo.
Como é de costume, vou colocar ao final um trecho do livro, aqui vai um trecho de “O amor bate na aorta” na minha humilde opinião, um dos melhores poemas de Drummond:
“[...]
Olha: o amor pulou o muro
o amor subiu na árvore
em tempo de se estrepar.
Pronto, o amor se estrepou.
Daqui estou vendo o sangue
que corre do corpo andrógino.
Essa ferida, meu bem,
às vezes não sara nunca
às vezes sara amanhã.
Daqui estou vendo o amor
irritado, desapontado,
mas também vejo outras coisas:
vejo beijos que se beijam
ouço mãos que se conversam
e que viajam sem mapa.
Vejo muitas outras coisas
que não ouso compreender...”
Indicação do Aion
[nos perderemos entre monstros, da nossa própria criação]
“Esta é a história do encontro de dois homens brancos solitários, magros e relativamente velhos em um planeta que estava morrendo rapidamente.”
Tragicômica. Talvez seja esta palavra que posso usar para definir a obra de Kurt Vonnegut. Aliás, começando pelo autor, Kurt é um maluco que, após se formar em Química e ser veterano da Segunda Guerra Mundial, resolveu começar a escrever, alimentando ainda mais a sua insanidade.
Insanidade é o que vemos em Café da Manhã dos Campeões. “Um livro divertido do qual é proibido rir, triste que não pode chorar”, a começar pelo primeiro aspecto: o livro é direcionado a alienígenas. Sim, eu sei o que você está pensando. E para explicar aos alienígenas os aspectos da Terra e da humanidade, Vonnegut utiliza recursos de explicação absolutamente simples, secos, óbvios e cínicos. Aquilo o que realmente é. Um extremo humor sarcástico, uma sacada genial. O próprio autor desenha diversas figuras durante o texto para demonstrar o que é tal coisa, é quase como você estar lendo um manual.
O enredo centra-se em Kilgoure Trout e Dwayne Hoover, dois homens aparentemente de vidas distintas. O primeiro é um escritor mal sucedido, que já escreveu tantos textos e contos que nem o próprio lembra corretamente de todos, e como ninguém quer lançar seus contos a única forma que ele tem para divulgá-los é mandando para revistas pornográficas, que os utilizam seus em suas revistas apenas para “cobrir páginas”, ou seja, deixar a revista mais volumosa colocando vários conteúdos apenas para encher as páginas. Já o segundo é um homem rico, dono rede de hotéis, fast-food, revendedora de automóveis; seu único problema é que ele está aos poucos, enlouquecendo, e só precisa de um pequeno aperto no gatilho para pirar de vez, e isto acontece ao conhecer Trout, e ler alguns versos que este escreveu. Deixando Trout confuso a respeito do que ele poderia fazer a uma pessoa. O livro baseia-se e desenvolve-se no pré, durante e pós o encontro entre estas duas pessoas.
O livro desenrola-se de uma maneira quase bizarra. O narrador (que entende-se ser o próprio Kurt) se coloca dentro do texto, como se ele fosse O Criador daquele Universo, ele próprio admite que pode colocar quem ele quiser, fazer com que cada personagem faça o que ele quiser, mas ninguém nota a presença dele, ninguém desconfia –a não ser Trout-. Todos os personagens do livro se interligam de alguma maneira, mas a maioria deles não sabe nada a respeito um do outro.
Nada escapa do humor de Kurt. Ele ironiza com política, religião, sexo, morte, raça e principalmente com o “American way of life”. Segundo o próprio, existiam quadrilhões de nações no Universo, mas a nação de Hoover e Trout era a única com um hino estupidamente idiossincrático a ponto de ser salpicado com diversos pontos de interrogação. Outra crítica interessante de Kurt são a respeito das placas publicitárias (sendo até o nome do livro uma referência é uma frase publicitária de uma empresa de cereais americanas), Kurt ironiza com as frases que as empresas usam para divulgar seu produto mostrando como estas não fazem sentido algum ou fazem sentido demais, chegando até a serem trágicas. A forma cínica com a qual ele aborda a loucura, os segredos de cada pessoa, a hipocrisia, a dor, a morte e o passado (e futuro), é genial.
Para quem gosta de humor sarcástico, negro e completamente fora do moralismo, recomendo a leitura. É difícil não se submeter no mundo criado por Kurt Vonnegut.
Deixo aqui, um trecho, na realidade, um trecho que eu considero extremamente genial. Então peço, de verdade, para que leiam, pois ele te dá uma noção da dimensão e estilo da crítica e sarcasmos presentes neste livro.
“E aí, segundo Trout, estava o motivo pelo qual os seres humanos não conseguiam rejeitar ideias ruins: As ideias na Terra eram sinais de amizade ou inimizade. O conteúdo delas não tinham importância. Amigos concordavam com amigos com o objetivo de expressar amizade, inimigos descordavam de inimigos com o objetivo de expressar inimizade.Por centenas de milhares de anos, as ideais dos terráqueos não tiveram importância, uma vez que eles não podiam mesmo fazer muita coisa a respeito delas. As ideias podiam ser tanto sinais quanto qualquer outra coisa. Eles tinham até mesmo um ditado sobre a futilidade das ideias: ‘Se sonhos fossem cavalos, os mendigos seriam todos cavaleiros’.E então os terráqueos descobriram as ferramentas. De repente, concordar com amigos podia ser uma forma de suicídio ou coisa pior. Mas as concordâncias prosseguiram, não em nome do senso comum, da decência, ou da autopreservação, mas da amizade.Os terráqueos seguiram sendo amistosos, quando na verdade deveriam estar pensando. E mesmo quando criaram computadores para pensar um pouco por eles, projetaram-nos não tanto para a sabedoria quanto para a amizade. Assim, estavam condenados. Mendigos homicidas eram cavaleiros.”
That's all folks.
Vejo vocês por aí.
Indicação de Luiz A. Jr.
“Um pai. Um filho. Três filmes por semana.”
Canadá. David Gilmour está tendo terríveis problemas com seu filho Jesse; o rapaz tem 17 anos, odeia a escola, tira notas horríveis e está cada dia pior em sua situação. David é um apresentador de talkshows e crítico de cinema que está passando por grandes dificuldades financeiras. Diante de toda sua situação, decide tomar uma atitude drástica: o rapaz pode deixar a escola, não precisará trabalhar, poderá dormir até tarde, e também não precisará pagar aluguel – desde que assista com o pai 3 filmes por semana, e é através destes filmes que o menino será educado. Os dois assim acabam criando O Clube do Filme.
Gilmour de fato existe; é um jornalista canadense super simpático, Jesse também existe de fato e é o motivador desta história toda. O amor que David tem por seu filho é mostrado muito bem nessa biografia de uma parte de sua vida, quando ele se viu obrigado a criar o Clube do Filme.
O Clube do Filme é um desses livros, que a gente começa a ler com o pé atrás, achando que pode se tratar de mais um daqueles bobos livros de auto ajuda, ou então, alguma autobiografia cuja única função é enriquecer seu autor. Felizmente, este livro não atende a nenhum desses requisitos; alias, é um livro delicioso.
David nos conta de como através de uma idéia, um tanto quanto arriscada, resolveu os problemas do filho que de certo modo poderia se dar muito mal na vida. É um dos testemunhos mais profundos sobre o amor de pai e filho que eu já tive a oportunidade de ler. Quando, pouco a pouco, David nos conta como funcionava o Clube do Filme, nos maravilhamos, e para os amantes da sétima arte o livro tem um gosto todo especial: David mostra ao filho clássicos como “Assim Caminha a Humanidade”, “Bebê de Rosemary”, “O Iluminado” de Stanley Kubrick, “O Poderoso Chefão”, “Uma Rua Chamada Pecado”, e em certo ponto do livro, os dois, passam a ver os chamados filmes “prazeres culpados”, aqueles filmes ruins, um lixo, que você sabe que são um lixo, mas você gosta mesmo assim. No livro Gilmour se refere ao filme “Uma Linda Mulher”, defendido por ele como um filme envolvente, apesar dos pesares. Em outro ponto, os dois vêem “O Exorcista” e depois têm dificuldades para dormir.
Pai e filho viam os filmes e através de discussões pertinentes a eles, David tentava dar uma boa educação ao jovem, até certo ponto, quase perdido. Há também as criticas cinematográficas que Gilmour coloca a cada filme que ele lembra ter visto com seu filho fazendo com que o livro fique a cada página mais interessante, inclusive porque trata de fatos que aconteceram realmente.
Adjacente ao “Clube do filme” propriamente dito, o livro traz os enlaces amorosos de Jesse, vistos pelos olhos cuidadosos de seu pai, ou então a busca de emprego de Gilmour; também a viagem de pai e filho (e a ex-mulher) a Cuba; enfim, todos os fatos da vida cotidiana de pai e filho, o que faz o leitor se aproximar ainda mais daquela história e perceber como é grande o companheirismo de ambos. Também nos sensibiliza quanto à coragem de Gilmour, ou então nos diverte com situações que o homem acaba se defrontando, como a falta de dinheiro por exemplo.
Em outra passagem, uma preocupação de Jesse que seu pai não vá ver uma apresentação sua de música num bar com seus amigos notamos evidentemente as relações de pai e filho sendo testadas. O companheirismo, a preocupação, o amor.
O Clube do filme é um testemunho muito bonito de tudo isso, não há como não se interessar por aquela história que é tão banal e tão comum, mas por ser real se aproxima muito das histórias que nós vivemos todos os dias, o que dá ao livro um charme ainda mais especial.
“Conversávamos sobre a década de 1960, sobre os Beatles (muitas vezes, mas ele era indulgente comigo), sobre beber mal, beber bem, e então, mais um pouco sobre Rebecca (-Você acha que ela vai me dar um pé na bunda?), Adolf Hitler, o campo de concentração de Dachau, Richard Nixon, infidelidade, Truman Capote, o deserto de Mojave, o empresário de música Suge Knight, lésbicas, cocaína, o visual heroin chic dos anos 90, os Backstreet Boys (idéia minha), tatuagens, Johnny Carson, o rapper Tupac (ideia dele), sarcasmo, levantamento de peso, tamanho do pênis, atores franceses, o poeta e.e. cummings. Que bons tempos! Eu podia estar esperando por um emprego, mas não estava esperando pela vida. Ela estava ali, bem ao meu lado, na cadeira de vime. Sabia que aquilo era maravilhoso enquanto estava acontecendo – mesmo que pressentisse, de alguma forma que a linha de chegada já nos aguardava, no final do caminho.Hoje em dia, quando vou à casa de Maggie jantar, faço uma pausa nostálgica na varanda. Sei que Jesse e eu passaremos por ali, para tomar uma xícara de café, mas não será igual à época do clube do filme. Curiosamente, o restante da casa – a cozinha, o quarto, a sala e o banheiro – não guarda traços da minha presença. Não sinto nenhuma vibração, nenhum eco de minha estada ali. Somente a varanda”.
Recomendadíssimo.
Indicação do Aion
[nos perderemos entre monstros, da nossa própria criação]
Encontro o Aion nessa segunda com mais um livro situado no contexto do nazismo alemão. Mesmo que O Triângulo Rosa não seja nada parecido com O Menino do Pijama Listrado em suas características temáticas e literárias, é impossível não comparar os acontecimentos provocados pelo universo nazista nas duas obras. Na entrada do campo de concentração de Bunchewald está escrito “jedem das seine”, um provérbio alemão que significa algo como “a cada um o que merece”. Foi a partir dessa premissa tão controversa que a história de Rudolf Brazda chegou até nós hoje como livro e como registro histórico. À época do livro com seus 97 anos, Brazda foi o último sobrevivente gay dos campos de concentração alemães e seu testemunho chega à comunidade literária através d’O Triângulo Rosa, escrito e narrado por Jean-Luc Schwab.
Apesar da escrita terrivelmente simplória (ainda não tive a oportunidade de verificar se a culpa é da tradução), das pouquíssimas 182 páginas (já acho poucas pra qualquer livro, ainda mais pra um livro de caráter biográfico) e da pouca atenção que se deu a ele na época do lançamento, Jean e Rudolf nos trazem importantes considerações e violentas quebras de alguns preconceitos atuais ao narrar a história de vida de Brazda, jovem alemão (tchecoslovaco por ascendência) que foi perseguido, condenado arbitrariamente e preso por sua orientação sexual.
Ao contrário do que se pode esperar, vamos ao encontro de Brazda com a interessante informação de que nem sua família, nem sua comunidade o discriminavam ou o apartavam por ser homossexual na década de 30. Jovem atraente no alto de seus 1m60 [risos], ele nunca teve dúvidas quanto a se sentir atraído por homens. Ser gay realmente nunca o incomodou em solo alemão até a subida ao poder do Partido Nazista e o consequente reforçamento do $175 do Código Penal alemão à época, que versa sobre “condenação à luxúria contra o que é natural”, entendendo-se luxúria como relações homem-homem ou homem-animal. O reforço se dá na substituição de “luxúria contra o que é natural” para simplesmente “luxúria”, ampliando o espectro da condenação não só para relações sexuais, mas bem como para “atos similares ou precedentes ao coito”.
Rudolf e sua enorme rede de amigos, homossexuais ou não, são pegos pela Polícia alemã por meio de denúncias, resultando na sua condenação, prisão e soltura. A reincidência no “crime” o leva ao campo de concentração de Bunchewald, destinado majoritariamente a presos políticos e inimigos do Estado alemão. Lá, Brazda recebe como símbolo um triângulo de tecido cor-de-rosa no uniforme, que o designa como homossexual – e o número de matrícula 7952. Sua vida antes e depois do campo é contada de uma maneira quase jornalística por Jean, que adiciona ainda ao depoimento fotos e pesquisa histórica.
Publicado por uma editora não pertencente ao grande circuito do mercado, O Triângulo Rosa quebra grandes preconceitos que gravitam em torno da homossexualidade. O primeiro deles é a falácia de que há mais homossexuais hoje em dia do que antigamente. Estatisticamente, tendo-se em vista a população crescente, o número é obviamente maior – mas não deixa de ser proporcional. Nosso século apenas conferiu direitos e limpou vários preconceitos concernentes à homossexualidade – mas não a proliferou ou fez qualquer outro verbete desses. Brazda é um símbolo dessa reflexão nos anos 1930, com sua vasta e porque não, atuante rede de amigos e parceiros homossexuais, nem mais nem menos escondida.
O segundo grande preconceito é o de que a homossexualidade é uma característica adquirida ou escolhida. Não pretendo nem me manifestar sobre – ou corro o risco de escrever coisas de caráter pouco cortês. A respeito do assunto, prefiro a voz de Jean e Brazda:
“A situação não vai tão bem com o diretor do estabelecimento, que odeia os homossexuais. Quando tem oportunidade, ele não deixa de insultar Rudolf em público. As sanções são arbitrárias. Para os condenados por homossexualidade, o diretor tem uma de que gosta particularmente: que os prisioneiros durmam nus nas celas individuais. Ele está convencido de que o frio acalma o desejo dos detentos [...]
“Fico revoltado quando recordo meus anos de cativeiro impostos por esses crápulas nazistas! E isso tudo por quê? Por causa dos atos considerados ‘antinaturais’. O que eles sabem da natureza? E da minha natureza, aquela que eu não escolhi?””
Seeya.
Indicação da Amanda
Ao ler “O Menino do Pijama Listrado” é praticamente impossível não ficar com um nó na garganta. É um desses livros que te prende da primeira a última página, e para os mais sensíveis poderá até arrancar algumas lágrimas no final.
A narração começa com uma mudança para o personagem principal, Bruno, um molequinho de 8 anos que mora com os pais em Berlim na
Alemanha. Essa é uma das poucas informações que recebemos na leitura, sabemos que o menino está de mudança - e só podemos especular os motivos. A curiosidade é atiçada e vamos avançando pelas páginas para entender o que está acontecendo.
Tudo é narrado em 3ª pessoa pelo ponto de vista do menino, o que traz um ar infanto-juvenil à obra, mas engana-se quem enxergar o livro somente por esse aspecto; existe uma história muito triste cuja essência é fundamental conhecer para todo homem do século 21 por trás de tudo que acontece no livro e infelizmente se faz necessário contar histórias assim.
O pai de Bruno, que é um capitão da SS, é obrigado pelo governo a se transferir com a família, de Berlim para o interior da Alemanha, e mais a frente entendemos que não se trata de “qualquer” Alemanha e sim se trata da Alemanha nazista no auge do III Reich. Conforme mencionei, tudo nos é contado pelo ponto de vista por vezes ingênuo daquele garoto, o que faz com que aquele nó da garganta ao qual eu me referi se faça presente por diversas passagens do livro.
Quando chega na nova casa, Bruno não gosta nem um pouco do lugar. Ele ainda precisa conviver o tempo todo com a irmã Gretel, que tanto detesta: nas palavras de Bruno “um caso perdido”. Sem nada para fazer, o menino decide sair para fazer explorações e eis que chega muito perto de uma altíssima cerca de arame farpado. Aos poucos, cada detalhe vai sendo jogado, como um grande quebra-cabeça; nada é dado de bandeja ao leitor, e isso transforma a leitura em algo extremamente necessário. Arrisco dizer que é impossível começar “O Menino do Pijama Listrado” e não chegar ao seu final, ou tentar interromper a leitura e voltar dias depois.
Nessa cerca, Bruno faz o seu primeiro amigo na nova casa, o menino Shmuel; nesse ponto o leitor já se deu conta de que Bruno e sua família se mudaram para as proximidades de um campo de concentração, tal como os vários que funcionaram durante o governo de Hitler. Também já se deu conta de que o pai de Bruno é o comandante do campo, recrutado pelo “Fúria” para chefiar o local. Inclusive há uma passagem no livro, em que o autor nos conta sobre a visita que o “Fúria” fez a família em Berlim. Fúria é claro, trata-se da visão infantil de Bruno para “Fuhrer”, nomeação que Adolf Hitler usou para se designar líder da Alemanha nazista.
Shmuel e Bruno tornam-se grandes amigos, ainda mais quando descobrem que, além de terem a mesma idade também nasceram no mesmo dia. E então, Bruno passa a ir visitar o seu novo amigo todos os dias, levando-lhe comida, conversa e jogos. O Menino do Pijama Listrado trata-se de Shmuel, que utiliza na verdade o uniforme que os nazistas davam aos judeus dos campos de concentração: um uniforme branco com listras azuis - parecido com um pijama no olhar infantil de Bruno. O garoto pergunta por que o amigo utiliza somente aquele mesmo pijama e é quando Shmuel conta sua história, de como seus pais e ele vieram parar naquele lugar. Tudo do ponto de vista de uma criança de 8 anos, o que faz aquela confissão nos despertar todos os tipos de sentimentos, dos mais tristes aos mais indignados.
É muito emocionante cada conversa que Bruno tem com Shmuel, assim como a amizade que ambos constróem ao longo da narrativa. É interessante a maneira como o autor trabalha a dualidade dos dois,a vida confortável e cheia de mimos de Bruno em contraponto com a vida difícil que Shmuel vem levando; é tocante a discussão trazida pelo livro de como um olhar infantil vê o mundo ao seu redor. Apresentar todos os horrores do nazismo pelos olhos de duas crianças nos faz ficar mal a cada nova linha apresentada.
Mas é aí que está a importância de uma obra literária como “O Menino do Pijama Listrado”, de lembrar ao mundo tudo aquilo que aconteceu, de nos deixar tensos, de nos colocar um nó na garganta. Na esperança maior de que algo assim, algo como o que o livro nos retrata não venha a se repetir. O livro nos fisga desde o seu início, primeiro pela curiosidade, depois pela necessidade que todos nós temos de nos emocionar.
O mesmo acontece com a versão cinematográfica que o filme recebeu. O filme dirigido por Mark Herman, não consegue a mesma profundidade infantil do livro e nem mesmo o ocultar todas as informações atiçando nossa curiosidade, no entanto é um filme dotado de emoção, e ao ver aquele drama todo retratado na tela, ganhando vida, não há como não se emocionar. Minha indicação é que você leia o livro primeiro, depois, prepare uma caixa de lenços e veja o filme, que por sinal é muito bem dirigido e interpretado.
“- E sinto muito que não tenhamos podido brincar, mas, quando você for a Berlim, é só o que faremos, e eu o apresentarei a... Puxa, como era mesmo que eles se chamavam?.Bruno se perguntou, frustrado, pois eles deveriam ser os seus três melhores amigos para toda a vida, mas tinham desaparecido de sua memória àquela altura. Ele não se lembrava de seus nomes nem de seus rostos. - Pensando bem - ele disse, olhando para Shmuel - Não importa se eu lembro ou não. Eles não são mais meus melhores amigos mesmo. Ele olhou para baixo e fez algo bastante incomum para a sua personalidade: tomou a pequena mão de Shmuel e apertou-a com força entre as suas. - Você é o meu melhor amigo, Shmuel - disse ele - Meu melhor amigo para a vida toda”.
Indicação do Aion.
[nos perderemos entre monstros, da nossa própria criação]
"Todos nós desejamos ajudar uns aos outros.
Os seres humanos são assim.
Desejamos viver para a felicidade do próximo -
não para o seu infortúnio.
Por que havemos de odiar ou desprezar uns aos outros?
Neste mundo há espaço para todos."
Chaplin no filme "O Grande Ditador.
Amanda, te vejo na segunda!