sábado, 18 de janeiro de 2014

Pergunte ao Pó - John Fante

Capa da edição da Brasiliense. Foi o primeiro lançamento da obra no Brasil.
    Há tempos que gostaria de escrever sobre algo Fante aqui, sou um tanto suspeito pra dizer, é um dos meus escritores favoritos. Sempre me sinto de certa forma inseguro ao falar de uma obra dele, basicamente porque seus escritos me transportam para um outro ambiente pouco sólido e descritível. Minha relação com a escrita de Fante é bastante pessoal, principalmente em Pergunte ao Pó, e vou tentar não me apegar muito aos fatores dos quais me fazem gostar tanto, pessoalmente, dessa obra (assim como outras do escritor) e procurar fazer um breve apanhado um tanto mais externo e palpável para o leitor. Espero que gostem.

     De ascendência italiana, Fante nasceu em Denver (EUA) no ano de 1909. Seus escritos começaram a ser publicados em jornais e periódicos a partir de 1932, e em 1938, lançou seu primeiro romance. Apesar da influência que Fante causou, e inclusive já ter escrito roteiros para cinema e programas televisivos, ainda é considerado um autor um tanto desconhecido, a ponto de que Charles Bukowski pedisse a seu editor para que revisasse e relançasse obras de Fante que já estavam perdidas, inclusive o livro qual falarei a seguir.

      Fante morreu de uma forma horrível, a partir de uma diabetes que fora o gradativamente o destruindo ao longo de anos, deixando-o até cego. Em 1983  a doença o culminou.

      Pergunte ao Pó (Ask The Dust, no original) fora lançado em 1939 e é considerado um tipo de divisor de águas de Fante. O livro faz parte de uma “série” intitulada de “O quarteto Bandini”, que são quatro obras sobre o mesmo personagem, Arturo Bandini, qual é dito como o alter ego de Fante. Eu particularmente tenho minhas dúvidas sobre isto, mas é verdade que há vários traços entre Bandini e o próprio autor. Nesta obra, Bandini é um adulto que está se sentindo na merda, e de certa forma está. Mora sozinho em uma pensão qual não nunca consegue pagar, está desempregado e sem muitas esperanças, quer se tornar um grande escritor e está tentando viver de sua escrita. Inclusive possui um contato, um sujeito qual ele considera um grande editor, que o irá fazer sanar todas suas expectativas em relação ao seu trabalho, e este editor é um cara realmente interessado em Arturo, nas trocas de correspondências afirma diversas vezes o quanto os escritos dele são bons. Bandini não possui ninguém na cidade e atravessa seus dias segurando o desespero pela garganta. Apesar de viver neste ambiente de completa miséria, pessimismo e loucura, Arturo possui um orgulho e ego extremamente grandes, considera-se um sujeito de classe e superior a grande maioria. Muito disto em vista sua criação e ascendência italiana, que o fizeram encarar o seu redor desta maneira. Em uma de suas andanças por cafés ele acaba por conhecer Camilla, uma garçonete mexicana. Bandini logo se atrai pela garota, desenvolvendo uma paixão grande por ela, porém seu orgulho não o deixa aceitar isto, o orgulho de um “grande escritor italiano” se apaixonando por uma garçonete latina. Apesar disto, seu amor por Camilla continua a consumi-lo, e o orgulho de si é uma ferramenta para saciar o seu próprio ego.

     Escrito em primeira pessoa, o livro nos transporta até Arturo Bandini e nos faz entrar em sua cabeça, encontrando ali uma pessoa extremamente reprimida e com demônios profundos dentro de si. As tentativas chafurdas de manter o ego são apenas formas do personagem de escapar do abismo que se vê dentro de si. A miséria pela qual passa em sua vida é devastadora, e encontrar Camilla despertou um sentimento dentro de si qual mostrava de ainda poderia encontrar alguma luz, porém não sabia como lidar. Apesar das humilhações, jogos, atitudes extremamente machistas com Camilla, o sentimento de amor de Bandini é um dos mais sinceros que já encontrei na literatura, em meio a um frequente prélio com o ego, a ponto dos ambos em determinados momentos acabarem se misturando. Claro que tudo isto também vale as descrições de Fante, que são sensacionais e tornaram Bandini um personagem extremamente carismático e envolvente. Não é difícil de cair em empatia com ele.

     Quem se interessar pelo livro, também é interessante que procure pelos outros títulos do “quarteto Bandini”, pois cada um trabalha com Arturo em um período de sua vida, assim te ajudando a entender as estruturas que formaram o personagem.

   A primeira edição de Pergunte ao Pó no Brasil foi lançada pela editora Brasiliense, e contou com a tradução de Paulo Leminski. Este inclusive é um grande admirador da obra de Fante, e incrivelmente traduziu este livro simultaneamente enquanto o lia pela primeira vez. O prefácio é de Charles Bukowski...

...”Fante é meu mestre.”


Indicação do Luiz. A. Jr. 

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