sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Antologia da Literatura Fantástica - Coletânea


  Sabe aquele livro que você tem vontade de guardar pros seus filhos, pros netos, pras quinze próximas gerações que vierem depois de você? Pois é, assim é a Antologia da Literatura Fantástica, publicada pela Cosac&Naify (editora já conhecida por seu primor estético). Um deleite aos olhos - capa dura ricamente ilustrada, com as margens do livro em índigo, marca-páginas, cheiro bom de livro... Enfim, é lindo. Como costumo julgar o livro pela capa e pagar mais por um bom design/projeto gráfico, achei importante frisar esse aspecto (apesar de os preços da C&N, em particular, serem absurdos, por maior que seja o apuro visual de suas produções). 
  Essa antologia é uma coleção de contos selecionados, em 1950, por três escritores argentinos conhecidíssimos dentro e fora da literatura latino-americana (tanto que esse livro foi traduzido e publicado com grande sucesso em países de língua inglesa): Jorge Luís Borges, Adolfo Bioy Casares e Silvina Ocampo. São a epítome da literatura fantástica, histórias "antigas como o medo". 
  Excelente como livro de introdução a esse gênero literário tão fascinante, a Antologia abrange contistas de diversos países e momentos históricos, deixando o eurocentrismo pros fracos. É claro que, pela origem dos nossos compiladores, há um volume maior de contos originalmente escritos em espanhol. Dentre todas as jóias do livro, há algumas de origem chinesa, que foram as que mais me espantaram - pela linguagem seca e concisa, pelo texto curto e, principalmente, pelos finais surpreendentes, do tipo que te faz olhar pras paredes atordoado e se perguntar o que, afinal, aconteceu. Eles dão o tipo de nó na cabeça comparável ao provocado por uma demonstração matemática inconclusa. E, tanto quanto a Matemática, são belíssimos em sua austeridade fantástica. 
  Há também contos de escritores conhecidos. Kafka, Cocteau, Edgar Allan Poe, Carroll, Cortázar marcam presença. Um ponto interessante é que a escolha dos contos não foi tão óbvia - não temos, por exemplo, O Escaravelho de Ouro na seção dedicada a Poe. Outro ponto é que alguns contos não são reproduzidos inteiros, e sim comparecem no livro por meio de trechos, como no caso de Lewis Carroll - temos apenas um excerto de quatro linhas retirado de Alice do País das Maravilhas (ou seria Alice no País dos Espelhos? Desculpem, realmente não sei). 
  Além disso, é um ótimo tour pela literatura hispânica. Há vários contos de artistas que, pelo menos para mim, até então eram desconhecidos. Na verdade, o maior mérito do trabalho de Borges, Casares & Ocampo é justamente esse: um livro que abre caminhos para novos livros, que te apresenta de forma agradável a várias formas de contar e de mostrar todo o assombramento do homem frente à existência e frente ao absurdo inerente a ela - afinal, esse é, me arrisco até a dizer, "por definição", o material da ficção fantástica. 
  Recomendo, portanto, a todos aqueles que quiserem ter um mergulho prazeroso no gênero - e voltar dessa incursão com muitos nomes, muitos autores e muitas ideias para, quem sabe, um conto próprio. Ah - é um estímulo também pra ir na Cultura, na Saraiva, e tantos outros templos do consumismo literário e abrir (mais uma vez) a carteira. Ou não. Há bibliotecas, há amigos... Enfim, não importa. Leiam a Antologia e leiam, depois dela, mais contos fantásticos ainda. É essa minha recomendação. 


  Indicação da Heloisa Bianquini (sim, eu voltei!)

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