terça-feira, 16 de abril de 2013

As vantagens de ser invisível - Stephen Chbosky


Deixei pra postar hoje, não ontem, porque queria terminar justamente esse livro da indicação. E calme-se, porque não enlouqueci e estou recomendando livros adolescentes: indicar As Vantagens de Ser Invisível tem lá suas vantagens. Embora o autor do livro seja o responsável pela adaptação ao cinema, eu quero esquecer o filme um pouco (embora eu o tenha assistido antes de ler o livro) e focar na obra de origem, que é mais do âmbito aqui da página.

Não recebi o livro com tanta desconfiança porque já havia assistido a adaptação, mas, se eu não o tivesse feito, relutaria muito em ler algo que logo na capa diz “Jovens leitores”. Não que eu tenha problemas com os jovens leitores em si, ao contrário, acho ótimo que uma nova geração seja chamada especificamente de volta à literatura. No entanto, os textos com que os novos leitores têm sido fisgados são geralmente uma literatura mais marketing, pouco complexa, mal escrita e que no fim, repetem sempre os mesmos clichês e bloqueiam o acesso a um nível mais elevado (sim, eu hierarquizo literatura, beijão!). É o caso dessa nova mania de sagas: inventar uma história e reaproveita-la por mais alguns volumes, faturando outro tanto com a franquia no cinema.

Foi uma grata surpresa, então, assistir e ler As Vantagens de Ser Invisível. Diferentemente da reafirmação de clichês E GRAÇAS A DEUS sem volumes subsequentes, Chbosky soube discutir através de Charlie, adolescente de 15 anos que acabou de entrar no ensino médio, drogas, sexo, rock, sociabilidade, transtornos psiquiátricos, abuso, família, ambiente escolar, enfim, tudo de extrema pertinência exatamente para o leitor que é o público alvo de acordo com a capa: o jovem leitor.

Charlie, adolescente dos anos noventa, tem um sofrimento psicológico relativo ao suicídio do melhor (e único amigo) e da morte de sua tia quando era criança. Ao entrar no ensino médio, ele acabara de passar uma temporada internado em um hospital psiquiátrico, e agora começa o novo curso com o objetivo de sociabilizar-se para impedir que tais problemas ocorram novamente. No entanto, Charlie é extremamente tímido, tem pouco tato social e sempre viveu com sua família, não sabendo se inserir em novos grupos.

Duas características do garoto acertam em cheio logo na primeira página leitores como eu ou você, que tiveram uma adolescência mais ou menos semelhante ao do protagonista: ele é viciado em leitura, escreve bem e é muito observador. Ao ser “invisível”, Charlie se põe com facilidade a compreender os outros e suas dores; capta detalhes que fazem com que compreenda muita coisa desse universo adolescente.

No entanto, Charlie é inocente. Isso fica evidente enquanto ele vai fazendo suas descobertas com seus novos e únicos amigos do ensino médio: um grupo de veteranos que está prestes a ir para a faculdade. Ao se envolver com o sexo, as drogas e o rock, Charlie traz à tona um mundo que todo adolescente desconhece e contra o qual luta desesperadamente para tentar compreendê-lo e nele se inserir.

Vale comentar que Charlie faz amizade com seu professor de língua inglesa (um equivalente a literatura) e este vai lhe dando livros ao longo do ano e investindo na capacidade de Charlie de escrever. Chbosky é sensacional aqui: como é Charlie que narra em primeira pessoa, em cartas a um amigo desconhecido, o autor vai progredindo na capacidade de escrita junto com Charlie. No começo o texto é hesitante, talvez mal construído. Depois, Charlie vai escrevendo cada vez melhor e Chbosky também, organizando para seu protagonista estruturas e complexidade de texto, numa perfeita simbiose autor-personagem.

Para terminar, é válido puxar a maneira com que o autor usa Charlie para discutir sofrimento mental, resultando num relato tragicômico sensacional. Definitivamente, este não é um livro pertencente às prateleiras da geração teen dos clichês e dos vampiros.

“Querido amigo,Agora são quatro horas da manhã e é Ano-novo, embora ainda seja 31 de dezembro, isto é, até que as pessoa durmam. Não consigo dormir. Todo mundo está ou dormindo ou fazendo sexo. Fiquei assistindo à tevê a cabo comendo jujuba. E vendo coisas se moverem. Queria contar a você sobre Sam e Patrick, e Craig e Brad, e Bob e todo mundo, mas não consigo me lembrar direito agora.Lá fora está tranquilo. Sei disso. E fui de carro até o Big Boy mais cedo. E vi Sam e Patrick. E eles saíram com Brad e Craig. E isso me deixou triste, porque eu queria ficar sozinho com eles. Isso nunca aconteceu antes.As coisas ficaram piores há uma hora e eu estava olhando esta árvore, mas era um dragão e depois uma árvore, e me lembro de que o dia estava lindo quando eu fazia parte do ar. E me lembro de aparar a grama naquele dia para ganhar minha mesada, como estou removendo a neve da entrada de carros com uma pá para ganhar minha mesada agora. Então comecei a tirar a neve da entrada do Bob, o que é uma coisa estranha de se fazer em uma festa de Ano-novo. Meu rosto está vermelho de frio, como a cara de bêbado do Sr. Z e seus sapatos pretos e sua voz dizendo que quando uma lagarta vai para um casulo é como uma tortura, e como leva sete anos para um chiclete ser digerido. E aquele garoto, o Mark, na festa que me deu aquilo saiu do nada e olhou para o céu, e me disse para ver as estrelas. Então eu olhei para cima, e estávamos em uma cúpula gigante como uma bola de neve de vidro, e Mark disse que as estrelas muito brancas eram na verdade somente buracos no vidro negro da cúpula, e quando você foi ao céu, o vidro quebrou, e não havia nada, exceto um monte de estrelas brancas, que são mais brilhantes que qualquer coisa, mas não ferem os olhos. Era imenso, aberto e delicadamente quieto, e eu me senti muito pequeno.”

Indicação da Amanda.
Bjaum pra vocês.

[you see, but you don’t observe as Charlie does]

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