Por Aion Roloff
Joaquim entrou no salão. Era segunda-feira (sim, amanhã).
Tudo que viu foram várias estantes, muitas estantes, insanamente estantes. E o
que tinham nas estantes? Sim meus caros, livros! Ah, muitos livros, insanamente
livros. Joaquim – ele me contou depois – Ficou maravilhado, extasiado, para um
amante de leitura, que contava moedas para comprar edições de bolso, e assim ir
aumentando uma modesta coleção, era muito, era mais do que o coração dele
conseguia suportar.
De literatura americana, livros de história, passando por
romances do inicio do século XX, Livros de capa dura, edições desgastadas pelo
uso e pelo tempo, dicionários de italiano, inglês, francês, árabe... livros de
lógica formal, capitalismo, socialismo, a eterna briga, revistas dos anos 60,
capas históricas, o segurança bravo porque entrou na seção sem ser anunciado...
Joaquim desbravou cada estante, cada andar, cada pedaço do
céu daquele lugar. Já havia ouvido uma vez, que o paraíso era uma espécie de
livraria, agora parecia que tinha certeza, era mesmo. E o melhor! Era gratuito!
Tudo que ele precisava era de uma carteirinha, a taxa de inscrição, e um
comprovante de endereço. Tudo isso, e tudo aquilo seria dele!
Joaquim, me telefonou extasiado – mais uma razão pela qual
me arrependi de ter dado meu numero a ele – Aion! Berrava ele no telefone, você
precisa vir aqui, você nem imagina o que eu encontrei! Eles deixam levar para
casa! Aion! Aion! Tudo que eu consegui pensar na minha cabeça foi o seguinte,
meu caro Joaquim, você nunca foi numa biblioteca antes? Nunca mesmo? Ela estão
espalhadas pela cidade, abarrotadas de livros, prontos para serem lidos e
admirados, basta você entrar e se maravilhar.
O rapaz – filho não lembro de quem – já havia sim
frequentado uma biblioteca, a modesta biblioteca de sua escola, onde havia um
dois exemplares de livros infantis, a maior parte em edições condensadas, isso
não por que a escola era ruim, ou agia de má vontade, era falta de recurso
mesmo. Eu, cabeça dura e com pouca sensibilidade, estava me esquecendo que ele
havia finalmente conhecido uma biblioteca de verdade. Normal estar daquele
jeito, eu mesmo quando entrei pela primeira vez numa biblioteca dessas,
grandes, enormes, cheias de livros, também perdi o fôlego. Mentira, quando
olhei da rua, um prédio, um enorme prédio, só para livros, é muito melhor que
uma livraria, mas infinitamente melhor.
Tudo que irritou Joaquim naquele dia, foi apenas uma coisa,
ele que passou por todas a seções e andares da biblioteca, corredores e
escadarias, escolhendo livros e mais livros, e mais livros, e mais livros, de
maneira insana e ávida por leitura, chegou ao balcão de empréstimos, com nada
menos que vinte exemplares – que acreditem, ele iria devorar em uma semana. A
bibliotecária, uma simpática mulher de uns quase 30 ou 40 anos, ainda muito
bonita, de maneira muito terna e cuidadosa, alertou o jovem Joaquim que aquele
número infringia o limite de empréstimos, que ele só poderia levar 3
exemplares, mas os 17 que sobrassem ele poderia buscar em outras oportunidades.
É claro que Joaquim achou aquilo um absurdo, e quem não acharia, não é mesmo?
Como assim, vocês estão limitando o meu poder de leitura? Estão limitando as
minhas aventuras literárias?
Calmamente, a bibliotecária explicou que não poderia liberar
vinte exemplares, primeiro, porque havia um limite pré estabelecido, regido por
normas internas daquele local, e também de qualquer outra biblioteca, e depois
porque a biblioteca – pública – era de todos, ou seja, mais pessoas apaixonadas
por leitura, assim como Joaquim, também gostariam de poder ler vários livros, e
que o número de livros era sugestivo, e que Joaquim poderia pegar três, lê-los,
devolver, e pegar mais três...
Pouco convencido, Joaquim teve que tomar uma das piores
decisões de toda a sua vida, escolher apenas, e tão somente três livros, da
lista maravilhosa que estava em suas mãos. Com muita dificuldade escolheu,
depositou os três que levaria em cima do balcão, e prometeu a si mesmo que
voltaria tão logo quanto possível buscar os outros.
*Essa crônica é baseada em fatos reais, não que Joaquim
exista – bem talvez ele exista, creio que em minha memória, uma vez quando eu
tinha sua idade, eu entrei numa biblioteca e fiz exatamente todas as coisas que
Joaquim fez. E hoje, toda a vez que eu entro, me lembro do jovem Joaquim e sua
paixão por livros e literatura, e isso piora com o tempo.
Um comentário:
E hoje em dia você não deixa o pessoal pegar mais de 5 livros na biblioteca da Reitoria.
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