Escolhido para a resenha inaugural do Posso te indicar um livro?, Meu Pé de Laranja Lima, foi escrito por José de Mauro Vasconcellos e publicado pela primeira vez em 1968. Suas singelas 190 páginas (na 99ª edição) são daquelas páginas que mais têm capacidade de construir um vínculo afetivo com o leitor. O livro, apesar de "infanto-juvenil" - e mais para frente haverá justificativa para as aspas - é um dos livros que levo da minha infância para a vida adulta e não poderia ter escolhido outro para começar as resenhas da página.
Meu Pé de Laranja Lima conta a história do menino Zezé, um garoto pobre que nos seus cinco ou seis anos começa a descobrir como interagir com a realidade. Saído da primeira fase infantil, nosso protagonista aprende com seus irmãos, pais e na escola o quão dura é a realidade, a realidade dos "dedos magros da pobreza" para um garoto levado.
Zezé é um menino encantador, embora extremamente arteiro. Seu padrinho, o Capeta, sussurra-lhe nos ouvidos esta ou aquela arte que no fundo no fundo, tem mais o chamariz da carência infantil do que mesmo a molecagem. Zezé, que não é nem o filho mais velho nem o mais novo de uma família pobre, está na história de José Mauro preso à armadilha do fim da inocência infantil e de sua limitada capacidade para a vida adulta.
Zezé descobre tudo muito cedo - e sofre as consequências da vida adulta muito cedo. O pé de laranja lima, Minguinho, que dá nome a história, é seu grande amigo (embora mais tarde ofuscado pelo amigo Portuga) e é quem o menino Zezé encontra para debater - e porque não sonhar e criar em cima de - tudo aquilo que vê.
A história é uma história infantil, é bem verdade. Entretanto, José Mauro consegue abranger todas as idades pela simples mágica de nos trazer uma visão tão doce e tão sofrida de uma infância que quase não é mais infância. Reside justamente aí, na capacidade do autor de mexer com o íntimo, com o passado e com as experiências do adulto que o lê, o brilhantismo atemporal da história - que convenhamos, pode ser a nossa própria.
"Glória perguntava pelo meu mundo de fantasias.-Eles não estão. Foram pra longe...Estava certamente me referindo a Fred Thompson e aos outros amigos.Mas ela não sabia a revolução que se realizava dentro de mim. O que eu tinha resolvido. Iria mudar de filmes. Nada mais de filmes de cowboy, nem índio nem nada. Eu de agora em diante só iria ver filme de amor, como os grandes chamavam. Filme que tivesse muito beijo, muito abraço e que todo mundo se gostasse. Já que eu só servia para apanhar, poderia pelo menos ver os outros se gostarem."
Indicação da Amanda.
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