segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O Cão dos Baskerville - Sir Arthur Conan Doyle



Sir Arthur Conan Doyle foi um médico oftalmologista nascido em Edimburgo, na Escócia em 1859. Atende também pela alcunha de “criador do maior personagem da literatura policial de todos os tempos”, ou se vocês preferirem, criador de Sherlock Holmes, famoso detetive da 221B Baker Street. Holmes é um dos personagens mais fascinantes que eu já li – ainda não li toda a obra de Doyle – e o coloco nessa categoria por ser uma personalidade absolutamente incompreensível e compreensível ao mesmo tempo. Sherlock é o próprio mistério – mistério clichê, eu sei – e é justamente isso que o faz fascinante: é um clichê incansável.

Doyle trabalha com uma estrutura mais ou menos definida em cada história (a primeira publicada foi Um Estudo em Vermelho, datada de 1887), entretanto, tem brilhante capacidade de escrever com a mesma estrutura uma história que (não há outra expressão pra definir) te faz ficar grudado violentamente com os olhos a dois centímetros do livro. Não se engane com todos os autores com thrillers viciantes vindos depois; todos bebem na fonte de do criador de Holmes – detetive que NÃO, infelizmente não existiu.

Holmes é um detetive um tanto arrogante, frio, com incríveis (quase inacreditáveis) habilidades de raciocínio lógico e dedutivo. Toca o violino razoavelmente bem, gosta de boxe, cachimbos e não é dado a sentimentalismos. Foi retratado em diversos filmes e peças de teatro, cada qual captando uma parte de sua essência (só O Cão dos Baskerville tem 24 adaptações). Aparece em quatro romances e em mais de cinquenta contos. Seus palpites são, às vezes, irritantemente certos para o leitor e os personagens; e aí, não se pode deixar de dizer: Holmes pode ser um personagem frio e talvez arrogante, mas é absolutamente envolvente.

As histórias do detetive são narradas em primeira pessoa pelo Dr. Watson, fiel escudeiro de Holmes e de personalidade carismática e afetiva, sempre às tontas com o acelerado raciocínio de Holmes. Eu diria que Watson é um personagem inocente, doce; os dois equilibram muito bem as suas personalidades em pontas opostas, outro dos inúmeros atrativos da obra do Sir.

A obra que indico – Cão dos Baskerville – é a minha favorita entre os romances. Eu a li com doze, talvez treze anos, e o enredo ficou profundamente marcado na minha biblioteca cerebral pela qualidade de Doyle, que se confirmou quando li outras obras, de trabalhar as voltas de um suspense de modo a não deixá-lo cansativo quando segura a resolução do mistério para as malditas-últimas-derradeiras-páginas.

The Hound of the Baskerville conta a história da família Baskerville, atormentada por uma maldição que vem de um de seus membros mais infames: Hugo Baskerville. Hugo, quando no auge da família, era o jovem senhor do Solar dos Baskerville, promíscuo, beberrão, cruel – “e não se pode negar que ele era um homem mui violento, profano e ímpio”. Ele acorda uma bela manhã desejando a bela filha de um fazendeiro radicado em terras próximas as de sua propriedade. Com cinco ou seis amigos, rapta a donzela, prende-a em casa e comemora o sucesso com uma bebedeira, que Hugo encerraria na intenção de possuí-la. A assustada jovem foge, lançando Baskerville em seu encalço com uma matilha de cães e a sua sensacional égua negra (tenho paixão pela descrição da égua desde que consigo me lembrar), jurando a todos que entregaria sua alma aos poderes do mal se conseguisse trazer a moça de volta.

Hugo desaparece na noite e seus amigos vão encontrá-lo morto ao lado da jovem donzela, com as gargantas dilaceradas. Completando a cena épica, está um “calado cão dos infernos que oxalá nunca venha atrás de mim”. Da mandíbula do cão escorre sangue, seus olhos são vermelhos como um fogo demoníaco.
Todos os membros que um dia habitaram o Solar dos Baskerville são mortos em circunstâncias curiosas, muito semelhantes às da lenda do cão dos infernos. A regra não tem exceção para o último habitante do Solar, Sir Charles Baskerville, que é encontrado morto em uma cena com patas gigantes de cão marcadas na lama da parte de trás da casa.

O último herdeiro da família, Henry Baskerville, é um jovem baronete prático que não acredita que seus familiares são mortos por entidades sobrenaturais. É então que Holmes é procurado – e o mistério resolvido. Aliás, brilhantemente resolvido. Marcado pelos seus giros e nuances de tirar o fôlego, recomendo não só Cão dos Baskerville, bem como toda a obra.

“Como se em resposta às suas palavras, surgiu de repente das imensas trevas da charneca aquele som estranho que eu já escutara nas margens do grande atoleiro Grimpen. Vinha com o vento pelo silêncio da noite, um resmungo longo e grave, depois um uivo crescente e por fim um gemido triste que morria na distância. Ecoou mais de uma vez, todo o ar palpitando com o som estridente, selvagem e ameaçador. O baronete agarrou a minha manga, e sua face tremeluzia branca no meio da escuridão
-Meu Deus, o que é isso, Watson?
-Não sei. É o som que eles têm na charneca. Já o escutei mais de uma vez.O som morreu ao longe, e um silêncio absoluto caiu sobre nós. Forçamos nossos ouvidos, mas não se escutava som nenhum.-Watson – disse o baronete – era o uivo de um cão.”

Seeya.
Indicação da Amanda

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