Para quem desconhece, vou escrever um pouco sobre o autor:
Charles Bukowski nasceu na Alemanha em 1920. Filho de pai americano (e militar), com mãe alemã, nos primeiros anos de vida mudou-se para Los Angeles, onde tornou-se cidadão americano.
Bukowski teve uma infância e juventude terrivelmente sofrida (e é nisto que se baseia o livro que comentarei em breve). Por ter um pai autoritário, vivia sob constante pressão familiar. Era constantemente espancado pelo seu pai por motivos extremamente fúteis (como por exemplo, quando ao cortar a grama, não a deixava em tamanho uniforme), sofria certo preconceito por ser alemão (visto que o livro se passa entre as duas guerras mundiais). Na adolescência, teve um sério problema com acnes (quando digo sério, digo REALMENTE sério), o que fez aumentar mais ainda a frustração de sua vida, sentindo-se cada vez mais afastado dos outros, e principalmente, de garotas. Por esta humilhação, chegou a se afastar da escola, pois não queria que ninguém o visse. Como ele próprio descrevera, era a real imagem de um monstro. Durante a adolescência, procurou constante abrigo no álcool, e assim, descobrindo o que mais tarde ele chamara de “uma das melhores coisas que já chegou a terra”.
Após sair de casa, ingressou na faculdade, mas fracassou, e desde então fez as sarjetas de Los Angeles o palco de sua vida (e de seus escritos). Bebendo e escrevendo alucinadamente, mandava seus poemas para os jornais de bairro, até nos anos 70 ser descoberto, e ganhar notoriedade com seu livro Cartas da Rua. Tornou-se um dos maiores escritores da América, com sua escrita extremamente simples, mas violenta e robusta, pouco ligando para regras de literatura, explorando temas do cotidiano, e de forma extremamente autobiográfica.
Em Misto Quente, Bukowski descreve usando o seu alter-ego Henry Chinaski, a história de sua infância e juventude, até os 24 anos, descrevendo com detalhes as coisas que escrevi no parágrafo anterior. Quando você começa a ler Misto Quente, a primeira concepção é que a vida de Chinaski é um completo inferno. Sofria preconceitos por todos os lados, tinha um pai completamente insano, e uma mãe ignorante, não se adequava com ninguém em sua vida social, só via apenas uma grande enfermidade crescendo e assim, cada vez mais se fechada em seu próprio mundo. “Então, é isso esse negócio que chamam de vida?”. O pensamento de Dostoiévski ecoava a cada momento pela sua cabeça:
-“Quem não quer matar seu pai? -.”
Bukowski relata através de Chinaski, toda a relação de amarguras de sua juventude e adolescência. Desde os primórdios até o momento em que finalmente decide sair de casa, para ir à faculdade. Usando uma linguagem completamente sarcástica, cheia de trocadilhos, Buk critica toda a corja da sociedade ao seu redor, e da forma mais cômica possível. Todas as lástimas de sua vida são retratas com um sabor de “Eu estou pouco lixando pra isso”. Buk aprendeu a pouco se importar, seja com a perspectiva de vida, com os indivíduos ao seu redor. Pouco se importar com um mundo onde as pessoas (principalmente mulheres) pareciam ser interessantes apenas de longe, pois quanto mais perto, mas sentia-se a náusea de vômito. O pessimismo, a negatividade, a sombra do futuro, faziam parte de seu campo magnético.
“Eu não odeio as pessoas, apenas prefiro quando elas não estão por perto”.
Misto Quente é, pra mim, o livro mais importante de Charles Bukowski, porque nele você realmente descobre quem é Bukowski. É o livro que mais recomendo para pessoas que não conhecem o escritor. Misto Quente é sem dúvidas, uma das obras mais genais que já tive o prazer de conhecer em minha vida. Que fique claro, não é algo que agrada a todos. Talvez, na verdade, agrade a poucos. São poucos que podem compreender Misto Quente, entender realmente a pessoa Charles Bukowski e a sua visão do que era o mundo. Não é um livro onde você encontrará a felicidade, mas traçará a amargura. Uma coisa posso afirmar: quem não leu Misto Quente, não leu Bukowski.
Deixo aqui um pequeno trecho do livro:
“E minhas questões pessoais continuavam tão más e lamentáveis quanto no dia em que nasci. A única diferença era que agora eu podia beber de vez em quando, embora nunca o suficiente. A bebida era a única coisa que impedia um homem de se sentir para sempre atordoado e inútil. Todo o resto ia furando e furando sua carne, arrancando seus pedaços. E nada tinha o menor interesse, nada. As pessoas eram limitadas e cuidadosas,todas iguais. E eu teria que viver com esses fodidos pelo resto da minha vida, pensei. Deus, todos eles tinham cus e órgãos sexuais e bocas e sovacos. Cagavam e tagarelavam, e todos eram tão inertes quanto estérco de cavalo. As garotas pareciam legais a certa distância, o sol resplandecendo em seus vestidos, em seus cabelos. Mas vá se aproximar e ouvir seus pensamentos escorrendo boca afora, você vai sentir vontade de cavar um buraco ao sopé de uma colina e se entrincheirar com uma metralhadora. Eu certamente nunca conseguiria ser feliz, me casar, nunca teria filhos. Inferno, eu nem mesmo conseguia um emprego como lavador de prato. Talvez eu pudesse me tornar ladrão de banco. Alguma coisa bem fodida. Alguma coisa flamejante, fogosa. Só se vive uma vez. Por que ser um limpador de vidraças?”
That’s all folks.
Volto a escrever na semana que vem.
Indicação de Luiz A. Jr.
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