terça-feira, 14 de maio de 2013
Preciosa - Oprah Winfrey
Eu sei, eu sei, faz um tempo que não apareço – e infelizmente, não voltarei antes de outro bom tempo. Ya, brows, comunico que devido a alguns contratempos na minha vida eu estou meio sem tempo/disposição para escrever, e por isso, hoje eu posto a minha última resenha.
Escolhi esse livro em particular pra poder fechar minha participação na Posso te indicar um livro? com chave de ouro, tendo certeza de que ela ficará em muito boas mãos. Pretendo ainda aparecer com trechos e alguns escritos, mas isso fica pra depois.
Muita gente conhece Preciosa (Push, no inglês original) por causa do filme, aclamado pela crítica, com alguns Oscar, bláblábláblá. Não interessa, não quero falar do filme – mesmo que eu só tenha descoberto a existência de um livro quando o exemplar me olhou de uma prateleira na Americanas, pedindo pfvr Amanda gaste todo seu dinheiro.
Eu gastei, e não me arrependo. Push é uma experiência surreal – irônico, porque fala de experiências muito reais, mesmo que a história em si seja ficção. Esse paralelo realidade-ficção já começa no nome da autora Sapphire (que eu não sei nem pesquisei, mas deve ser um pseudônimo), da personagem principal, Precious (na tradução, Preciosa), Blue Rain, o nome da professora de Precious; nomes de fantasia que contrastam muito bem na pegada real da história. Jogar esses nomes de fantasia num bairro negro e pobre dos EUA, o Harlem, e colocá-los no centro de histórias tão amargas é uma sacada brilhante num primeiro romance da autora recheado de elementos que denotam incrível habilidade em escrever e convencer.
Precious é uma adolescente negra, obesa, grávida pela segunda vez do próprio pai. Ela sofre abusos sexuais, físicos e psicológicos desde que consegue se lembrar, transformando sua vida numa nevoeiro permanente de memórias, dor e sonhos. Sua primeira filha (e irmã) nasce quando Precious tinha 12 anos e é portadora da Síndrome de Down e mora com avó. A adolescente mora com a mãe, que recebe dinheiro da previdência social para criar a filha e neta – mas o que na realidade acontece na vida de Precious é observar sua mãe passar todos os dias, dia após dia, em frente à televisão, comendo. Não bastasse os abusos sofridos pelo pai, a garota também sofre violência física e sexual da mãe.
Vivendo no próprio inferno, ela nos encontra sendo expulsa da escola e sendo indicada para uma escola de ensino alternativo, onde aprende, além da alfabetização básica – uma vez que seus anos de escola foram inúteis no turbilhão de sofrimento psíquico que vive desde que se lembra – noções sobre si, aprende a dar e receber o afeto que nunca teve e encontrar seu próprio lugar no mundo.
Como o Entertainment Weekly definiu tão bem, "você testemunha o nascimento de uma alma" ao terminar a história de Precious – que apesar de tudo, deixa aquela sensação de que no fim de tudo, jamais haverá um final feliz. Não quero nem comentar o subtítulo brasileiro "Uma história de esperança" porque eu não enxergo isso na história de Sapphire. A história de Sapphire é antes de tudo, uma crônica amarga sobre a incompreensibilidade humana.
Eu não quero dizer que a história ilustra a falta de sensibilidade para com nossos semelhantes ou qualquer bobagem filantrópica do gênero. O que eu guardei da história de Precious foi uma gigante interrogação. Você acompanha Precious no seu refúgio, na escola alternativa Cada Um Ensina a Um, você a vê tentando não se afogar no próprio nevoeiro e tentando transformá-lo no mais doce dos sonhos. Você conseguiria terminar o livro com uma mensagem positiva – mas você se depara com a humanidade no meio do caminho. Eu acho que isso o filme ilustra muito bem na cena em que Precious e sua mãe se encontram no escritório da previdência social, na qual a mãe da adolescente diz que poderiam haver milhares de julgamentos e de desculpas, mas não haveria nada no mundo que preenchesse sua solidão enquanto o homem que abusava de sua própria filha não estivesse ao seu lado na cama. A mãe de Precious amava o estuprador da própria filha.
Isso tudo converge novamente para nossa própria e imensa incompreensão a respeito de nós mesmos. Nós estamos tão corrompidos, distorcidos, presos a significações sociais e morais que esquecemos de compreender nossa própria natureza antes mesmo de condenar (ou nos compadecer da) a próxima.
Precious é o testemunho disso. Seu afogamento naquela realidade nojenta não é um afogamento solitário – há sempre mais e mais almas que não se compreendem se afogando em pântanos semelhantes. Se elas precisam de ajuda? É claro que não nego. Mas eu não acho que a ajuda seja apenas para Precious. Seja para todos nós, perdidos de maneiras semelhantes.
Narrado em primeira pessoa e no próprio dialeto coloquial do Harlem, com os erros de concordância e de ortografia, o livro percorre a confusão mental de Precious e nos insere em todas as outras ao terminar com as histórias escritas pelas colegas de classe na escola alternativa da protagonista – todas diferentes e semelhantes.
Eu digo que a mensagem final não é feliz porque eu não terminei o livro me compadecendo de histórias semelhantes. Eu terminei o livro chocada pela sua realidade abrangente, não de abuso, violência ou pobreza – embora ela seja caracterizada por esses elementos – mas sim chocada pelo meu próprio reflexo naquela confusão mental e tomada pela idéia de que seremos sempre incompreendidos e incompreendedores.
Bjão.
Indicação da Amanda
[you see, but you don't, you never observe]
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