Pra você que, assim como eu, não é exatamente o maior fã dos movimentos literários brasileiros mais clássicos (romantismo, realismo, naturalismo – esses que a gente é obrigado a ler na escola) MAS que sente que não deve desistir da literatura brasileira ainda, CALMA: eu tenho a solução.
Infelizmente, a literatura brasileira é sempre generalizada pelos clássicos: Machado, José de Alencar, etc etc, mas isso (ainda bem – pfvr não estou desmerecendo esses autores) não corresponde à realidade. O autor da indicação de hoje é um exemplo: Ignácio de Loyola Brandão é um autor conhecidíssimo no meio literário-acadêmico e permanece lamentavelmente desconhecido do grande público, que insiste em tomar literatura brasileira apenas por Machado de Assis.
Loyola Brandão é o tipo de escritor que muita gente tomaria por chato logo de cara, uma vez que ele escreve em fluxos de consciência – sejam seus próprios ou dos personagens. Lá vem você me falar de epifania e Clarice Lispector, mas calma, pequeno forasteiro; estamos bem longe disso.
A habilidade do escritor em fazer seus fluxos de consciência narrarem uma história ao invés de simplesmente serem dispersos – como se dá a maioria dos nossos fluxos de consciência – é impressionante. Loyola monta histórias cheias de pérolas e parágrafos que com facilidade te viram de cabeça pra baixo. Com O Verde Violentou o Muro, não é diferente: o autor, que recebe um adiantamento da editora que o publicava, viaja para a Berlim dividida da Guerra Fria, tentando encontrar alguma inspiração.
O Verde Violentou o Muro não é a história que ele deveria escrever (e escreveu), mas o diário paralelo. É dividido em curtos capítulos, que podem ser vários numa página ou capítulos de duas ou três páginas, e traça todo o panorama mental das impressões do autor de uma Berlim violada pelo muro.
Para o autor – e para o leitor – é outra realidade. O interesse nela vem da situação atípica da Guerra Fria, é claro, mas vem na mesma proporção pela habilidade de Loyola em fazer seus pensamentos soarem muito parecidos com os nossos e manter o interesse para saber o que vem (o que pensaríamos) depois.
Você que nunca se aventurou em outros gêneros que não o da ficção tradicional, comece experimentando qualquer livro do autor. Me bata depois se nem ao menos ficar um tanto filosófico.
“[Fixação]Estou meio doido. Piradão. Cada vez que vejo o nome Steglitz, me dá um comichão. Mas porque Steglitz?
[Difícil]Isto deve ser desenvolvimento: os sacos plásticos de lojas e supermercados não se rompem de modo algum. Resistem a tudo.
[Déficit]Custo a acreditar, porém leio uma estatística de que há na Alemanha um déficit de um milhão de habitações (revista Jeune Afrique, 7 de julho de 1982, caderno especial sobre RFA). Como se alojam as pessoas? Se amontoam aonde? Por que não vejo ninguém nas portas de igreja, nos bancos de jardim, embaixo das pontes (e há mais de 500 só em Berlim), viadutos? Não vejo favelas, malocas, barracos de madeira ou zinco. Conheço centenas de prédios deteriorados, mas nada daquilo que numa linguagem brasileira possa traduzir miséria, maloca, não-habitação. Ficou um mistério.O que existe na verdade: estudantes e famílias inteiras morando sem calefação. Gente morando em apartamentos sem banheiros, sem duchas, apenas com um sanitário.”
Boa semana a todos
Indicação da Amanda
Um comentário:
Acabei de ler,muito bom.
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