Olá, senhoras e senhores.
Está é a minha primeira coluna pessoal de domingo na Posso. Na verdade, era pra
ser no domingo passado, mas eu falhei em escrevê-la. Não se surpreenda se o
tema não for exatamente literatura – porque o objetivo dessa coluna é
justamente ser um espaço livre para que cada um de nossos colaboradores fale
sobre que raios quiser. Da maneira que quiser.
Hoje, eu quero falar sobre
vinho.
É, vinho. Aquela bebida roxa
que de repente, pra você, se chama Campo Largo ou você só bebe quando alguém
paga pra você. Normal – olhar na prateleira do supermercado dá um desespero de
não saber o que beber, não entender nenhum daqueles nomes que ilustram os
rótulos e principalmente – principalmente – não saber a diferença entre um
vinho “bom” e outro “ruim”.
Não pretendo aqui escrever
um pequeno guia para iniciantes no mundo do vinho. Até porque, eu mesma não sei
muita coisa – e vou aprendendo devagar e sempre. O que pretendo, na verdade, é
chamar a atenção para o fato de que o vinho tem muita coisa a ver com aquilo
que, tenho certeza, nós todos amamos: literatura.
Grandes autores de todas as épocas
escreviam uma literatura ébria, na qual o vinho era se não o grande motivo da
reflexão, um coadjuvante interessante.
Pra Fernando Pessoa, por
exemplo, “boa é a vida, mas melhor é o
vinho”. Bukowski diz que: “já vi
mendigos demais com os olhos vidrados bebendo vinho barato debaixo da ponte” e
olha só, tem um livro chamado Pedaços de um Caderno Manchado de Vinho. Se o
vinho não está no tema, pode ter certeza, ele estará lá: do lado do papel, uma
taça solitária.
Alguém até já fez essa
análise de um jeito muito melhor do que eu (http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/2862076/a-alma-do-vinho-contos-e-poemas-com-a-mais-celebre-das-bebidas)
organizando um compêndio com mais de 40 textos e autores que versam sobre o
vinho (de um universo de mais de 900 possibilidades!) ilustrando não só um
fascínio por uma bebida que deveria ser mais aproveitada por nós, hoje, mas
também demonstrando que ebriedade e arte andam de mãos dadas (e que vá embora a
culpa por isso!).
Eu adoro vinho. Primeiro
porque suas infinitas variações, possibilidades e combinações constituem um desafio
que nunca termina: sempre há e sempre haverá mais para conhecer. Segundo,
porque o vinho se associou há muito tempo na minha cabeça com o afeto que sinto
pelo cara que mais me inspira e que mais me empurra adiante nas vicissitudes da
vida: o meu avô.
Gosto de vinho porque esta é
uma maneira de homenageá-lo. É um ode ao velho que se senta numa poltrona com
uma taça de vinho na mão – e que também me apresentou o amor pela literatura.
As duas coisas ficaram
irremediavelmente ligadas na minha cabeça e – veja só – não existe quase nada
mais prazeroso que isso.
Queria poder falar mais
sobre vinho e sobre literatura – mas a verdade é que não entendo o suficiente
de nenhum dos dois. De modo que, além de incentivar você a abrir um vinho da
próxima vez que se sentar para ler um livro, deixo um poema e uma indicação –
que, para dar continuidade ao meu ode, é o vinho que mais me lembra do meu avô –
e que sempre me faz sorrir.
O poema é o Soneto do Vinho,
de Jorge Luis Borges.
“Em que reino, em que
século, sob que silenciosa
Conjunção dos astros, em que
dia secreto
Que o mármore não salvou,
surgiu a valorosa E singular idéia de inventar a alegria? Com outonos de ouro a inventaram.
O vinho flui rubro ao longo
das gerações
Como o rio do tempo e no
árduo caminho
Nos invada sua música, seu
fogo e seus leões.
Na noite do júbilo ou na
jornada adversa
Exalta a alegria ou mitiga o
espanto
E a exaltação nova que este
dia lhe canto Outrora a cantaram o árabe e o persa.
Vinho, ensina-me a arte de
ver minha própria história
Como se esta já fora cinza
na memória.”
E a indicação é um vinho
chamado Benjamin Nieto (não é mesmo um ode a uma neta e um avô?) Senetiner,
Malbec da safra de 2012. Na dúvida, é esse: http://www.winetag.com.br/vinhos/vinho.cfm?vinho=37433-nieto-senetiner-benjamin-malbec-2012
Abraços!